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sábado, 13 de janeiro de 2018

RESUMO DO LIVRO "ÉRAMOS SEIS"




A obra Éramos seis foi publicada pela primeira vez em 1943. 
É um romance de Maria José Dupré que também teve algumas adaptações 
para o cinema e para a televisão. Na televisão, Lola foi representada 
pela ótima atriz Irene Ravache no canal SBT.

O romance conta a história de uma família paulista constituída por Julio, 
Lola e seus quatro filhos, Julinho, Isabel, Carlos e Alfredo. A história 
dessa família é corriqueira e cotidiana, todavia desperta grande interesse 
no leitor por possibilitar descobrir mais das relações humanas e da 
individualidade de cada membro dessa família. A análise do estereótipo 
de cada indivíduo é muito interessante.

Julio é o patriarca da família, sujeito trabalhador e turrão – carrega todo 
o machismo proveniente de sua época. A família brasileira da época era 
composta pelo pai que era o provedor, a mãe que zelava o lar e responsável 
pela educação dos filhos. Julio não era um cara muito afetuoso com a mulher 
e os filhos, exceto Isabel que era sim sua filha preferida.

“Logo vi que você ia dar o basta; você e sua gente são fracas mesmo. 
Eu queria que você visse quando mamãe era moça, da sua idade; cozinhava 
para todos nós, limpava a casa que era uma beleza, mas ficava mesmo uma 
beleza. O soalho brilhava que se podia ver, não é como este aqui que até dá 
vergonha. Ainda costurava toda a roupa da casa, pergunte a Maria. 
Isso sim é dona de casa.”

Lola é a nossa Amélia da música de Mario Lago e Ataulfo “Ai que saudade 
da Amélia”

“Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia é que era mulher de verdade”

Mãe zelosa e amorosa, esposa dedicada e submissa, capaz de aguentar as 
bebedeiras do marido e suas grosserias pacificamente. O “pior” de tudo é 
que Lola nos faz crer que é uma esposa feliz. Lola é a grandeza dessa família, 
pois ela é capaz de tudo para que cada um deles viva da melhor forma possível.
 Durante toda a narrativa, Lola questiona a sua qualidade como mãe, como se 
esse fosse o papel que ela mais gosta de representar. Ela é sempre muito 
dedicada e comprometida.

“Nunca disse aos meus filhos para serem honestos. Sabe por quê? Porque 
sempre pensei que a gente já nascesse honesta e isso não se ensinasse. 
Imagine dizer a eles todos os dias: não roube, não mate. Você acha que isso 
se ensina? É o mesmo que dizer: a boca é para falar, os olhos são para olhar. 
Isso se ensina, Clotilde? Diga se isso se ensina. Ensina-se a ser bom, ser 
correto, cumprir as obrigações, ser limpo, fazer o bem, não maltratar ninguém, 
obedecer aos mais velhos, respeitar os superiores. Mas, não roubar, não matar, 
eu nunca ensinei; será que errei e devia ter ensinado também isso? 
Pensei que a gente da vossa raça já nascesse sabendo. Vai ver que errei”.

Apesar de Lola ser a responsável pela educação das crianças – sobremaneira, 
na fala de Julio, Lola é sempre responsabilizada pelas falhas dos filhos – Julio 
era a maior autoridade na casa. Era ele que detinha a palavra final e também era 
o grande temor dos filhos.

Carlos é o filho mais velho, muito estudioso e responsável. Ele é o orgulho 
dos pais, sempre atento aos problemas familiares e disposto a ajudar da melhor
 forma. É um doce deleite acompanhar a relação de Carlos com sua mãe.
 Eles são a representação maior do amor entre mãe e filho. Carlos esteve 
sempre ao lado de sua mãe… até o fim. Ele sempre foi preocupado com as 
questões familiares, sempre comprometido e empenhado para que os irmãos 
seguissem os ensinamentos dos pais. Carlos é a representação na história da 
moral e dos bons costumes, ele sempre foi a voz que dizia “não faça isso 
porque é errado”, “não faça aquilo porque é desonesto”; “não desonre a 
família, não desrespeite nossos pais”.

Alfredo é um canalha, desde pequeno já mostrava a que veio. Desobediente, 
desinteressado e muito egoísta. Um indivíduo completamente alheio aos 
problemas vivenciados por sua família. Um bom vivant. Alfredo é aquele 
indivíduo que faz toda a família questionar o que deu errado, pois consegue 
ser completamente diferente de todo o resto da família. Em contrapartida ao 
comportamento com a família, Alfredo era uma alma livre, desapegado, 
disposto a viver a vida intensamente. Alfredo não perdia tempo, talvez fosse 
a única pessoa que entendia que a vida é curta e que não temos tempo e que 
uma vida feliz não é acumular riquezas. O problema de Alfredo é que para 
viver o seu ideal, ele era capaz de fazer sua família sofrer, infringir normas,
 magoar pessoas.

Julinho era negociador, amante dos livros, focado e determinado. 
Era um burguês, enquanto esteve em casa não foi um mau filho, todavia ao 
se afastar dos pais para ir ganhar a vida em outro estado, ficou inerte e 
desinteressado da família. Depois que saiu do ninho, sempre foi correto, 
trabalhador, mas esqueceu completamente dos seus familiares.

Isabel era a mocinha da casa, vaidosa, a queridinha do papai. 
 Quando pequena seu maior sonho era ser professora, depois que cresceu 
seus sonhos ficaram maiores. Isabel é a personagem que nos traz um tema 
polêmico para a época: Divórcio.

Isabel se apaixonou por um homem “casado”. Ele estava separado de fato 
há dois anos, mas na época não havia o Divórcio tal qual o conhecemos
 hoje, pois somente em 1977 com a Emenda nº9 que se criou a figura do 
Divórcio. A Lei do Divórcio mesmo é de 26 de dezembro de 1977, 
completando em 2017 40 anos. Antes disso, poderia ser pedido o desquite que 
interrompia os deveres matrimoniais e terminava com a sociedade conjugal. 
Para a família tradicional da época era inconcebível aceitar o divórcio e essa 
questão foi responsável pelo afastamento de Isabel de sua família, pois os 
laços foram rompidos após a união de Isabel com um homem separado.

Esse tema despertou algumas reflexões sobre preconceito e como as questões 
culturais influenciam em nossa vida. Uma questão que separou uma família, 
hoje seria absolutamente normal. Trazendo a polêmica para os tempos atuais, 
é possível fazer uma analogia com as relações homoafetivas que hoje ainda 
separam famílias por causa do preconceito e da falta de entendimento. 
Daqui alguns anos será absolutamente normal, pois assim como ocorreu com 
o divórcio, as leis já estão sendo adequadas para garantir os direitos dessas 
pessoas. No futuro será outro tema que intranquilizará as famílias brasileiras. 
Peçamos a Deus que ainda existam famílias nessa época.

“Alguém disse que a ausência mata o amor, qualquer espécie de amor; só a 
convivência aquece e faz viver tanto o amor como a amizade. 
A separação esfria”.

Não são poucas as provações que os Lemos precisaram enfrentar, houveram 
dificuldades financeiras, mortes, revoluções.

A leitura do livro nos faz perceber como as relações e a própria sociedade 
mudam muito no decorrer do tempo. Talvez o modelo da família Lemos não 
sobrevivesse aos tempos atuais. Aliás, sobreviveria sim, pois parando um 
pouco para pensar, é possível encontrar famílias idênticas aos Lemos.

Esse livro é a prova concreta de que boas histórias são sempre atemporais, 
pois mesmo um romance que fora escrito na década de 40 consegue ser tão 
atual. A releitura desse livro também tem gosto de saudade da escola, saudade 
de ler os nossos clássicos da literatura nacional que andam tão esquecidos. 
Uma saudade de ir na estante da biblioteca da escola e pegar os livros do José 
de Alencar, do Adolfo Caminha, do Joaquim Manuel de Macedo, do Monteiro
 Lobato. Li uma versão da Editora Ática da série vagalume.

Salve a literatura nacional e os nossos grandes escritores.

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