A paixão segundo G. H., romance da escritora Clarice Lispector,
foi publicado em 1964 e, assim como em suas outras obras, os fluxos
de consciência permeiam todo o livro. É uma criação angustiante e
inquietante. Clarice transmite ao leitor as preocupações emocionais da
personagem G.H, mulher bem sucedida profissionalmente, porém não
conhece sua identidade, portanto, busca o conhecimento interior.
G.H. não tem nome, fato que a faz identificar-se com todos os seres.
G.H. não tem nome, fato que a faz identificar-se com todos os seres.
O enredo aparentemente tolo – a demissão da empregada doméstica
faz com que a patroa faça uma faxina no quarto da funcionária, onde
encontra uma barata – se torna um momento de profunda reflexão
existencial. Ao ver e encarar a barata, ao esmaga-la e ao comê-la, a
protagonista encontra a verdadeira razão de estar no mundo.
Seis meses após a demissão da empregada doméstica, G.H. resolve
Seis meses após a demissão da empregada doméstica, G.H. resolve
fazer uma arrumação no antigo quarto da funcionária, ao entrar ali
ela emerge em seu próprio vazio interior. Tomada pela aflição ela
procura algo para fazer, mas não há nada. Até que surge uma barata
saindo do guarda-roupa; nesse instante a personagem é tomada por
uma consciência de solidão.
A protagonista é tomada pelo nojo da barata, mas precisa enfrentá-la,
A protagonista é tomada pelo nojo da barata, mas precisa enfrentá-la,
tocá-la e provar o seu sabor. A náusea que a toma violentamente
representa a angústia que antecede a epifania e resulta na dolorosa
sensação de fragilidade da condição humana.
Com o intuito de retomar seus instintos primitivos, G.H. deve enfrentar
Com o intuito de retomar seus instintos primitivos, G.H. deve enfrentar
a experiência de provar o gosto do inseto. O provar simboliza uma
reviravolta em seu mundo alienado, imune e condicionado. Após o
ocorrido é que a personagem se dá conta do seu verdadeiro estar no mundo.
É tanto que depois ela tem dificuldades em narrar a sua impotência de
descrever os fatos.
Só à ideia, fechei os olhos com a força de quem tranca os dentes, e tanto
Só à ideia, fechei os olhos com a força de quem tranca os dentes, e tanto
apertei os dentes que mais um pouco eles se quebrariam dentro da boa.
Minhas entranhas diziam não, minha massa rejeitava a da barata.
Eu parara de suar, de novo eu toda havia secado. Procurei raciocinar com
Eu parara de suar, de novo eu toda havia secado. Procurei raciocinar com
o meu nojo. Por que teria eu nojo da massa que saía da barata? não bebera
eu do branco leite que é líquida massa materna? e ao beber a coisa de que
era feita a minha mãe, não havia eu chamado, sem nome, de amor?
[...]
Sabia que teria que comer a massa da barata, mas eu toda comer, e também
[...]
Sabia que teria que comer a massa da barata, mas eu toda comer, e também
o meu próprio medo comê-la. Só assim teria o que de repente me pareceu
que seria o antipecado: comer a massa da barata é o antipecado, pecado seria
a minha fácil.
O antipecado. Mas a que preço.
Ao preço de atravessar uma sensação de morte.
[...]
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro:
O antipecado. Mas a que preço.
Ao preço de atravessar uma sensação de morte.
[...]
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro:
Rocco, 1998
O livro pode ser entendido como uma alusão ao sofrimento da Paixão
O livro pode ser entendido como uma alusão ao sofrimento da Paixão
de Cristo, relatada por Mateus, Marcos, Lucas e João.
A paixão segundo G.H. é uma obra que ecoa existencialismo, portanto,
A paixão segundo G.H. é uma obra que ecoa existencialismo, portanto,
é considerada como uma luz sobre o entendimento da condição humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário