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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

RESUMO DO LIVRO "NEGRINHA"




Negrinha é narrativa em terceira pessoa, impregnada de uma carga 
emocional muito forte. Escrita por  Monteiro Lobato, sem dúvida 
alguma é conto invejável.

Resumo do Livro:

“Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? 
Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. 
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os 
pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. 
Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.”

D. Inácia era viúva sem filhos e não suportava choro de crianças. 
Se Negrinha, bebezinho, chorava nos braços da mãe, a mulher gritava: 
“Quem é a peste que está chorando aí?”
 A mãe, desesperada, abafava o choro do bebê, e afastando-se com ela 
para os fundos da casa, torcia-lhe beliscões desesperados. 
O choro não era sem razão: era fome, era frio: “Assim cresceu Negrinha ­ 
magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. 
Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés.
 Não compreendia a ideia dos grandes.

Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, 
a mesma palavra, provocava ora risadas, ora castigos. 
Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretexto de que às soltas 
reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, 
ao pé de si, num desvão da porta. – Sentadinha aí e bico, hein?” 
Ela ficava imóvel, a coitadinha. Seu único divertimento era ver o cuco 
sair do relógio, de hora em hora.

Ensinaram Negrinha a fazer crochê e lá ficava ela espichando trancinhas 
sem fim… Nunca tivera uma palavra sequer de carinho e os apelidos que 
lhe davam eram os mais diversos: pestinha, diabo, coruja, barata descascada, 
bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, 
cachorrinha, coisa ruim, lixo. Foi chamada bubônica, por causa da peste 
que grassava… “O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, 
vergões. Batiam nele todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. 
Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma 
atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos 
comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua 
cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta…”

D. Inácia era má demais e apesar da Abolição já ter sido proclamada, 
conservava em casa Negrinha para aliviar-se com “uma boa roda de 
cocres bem fincados!…” Uma criada furtou um pedaço de carne ao prato 
de Negrinha e a menina xingou-a com os mesmos nomes com os quais a 
xingavam todos os dias. Sabendo do caso, D. Inácia tomou providências: 
mandou cozinhar um ovo e, tirando-o da água fervente, colocou-o na boca 
da menina. Não bastasse isso, amordaçou-a com as mãos, o urro abafado 
da menina saindo pelo nariz… O padre chegava naquele instante e 
D. Inácia fala com ele sobre o quanto cansa ser caridosa…

Em um certo dezembro, vieram passar as férias na fazenda duas sobrinhas 
de D. Inácia: lindas, rechonchudas, louras, “criadas em ninho de plumas.”
 E negrinha viu-as irromperem pela sala, saltitantes e felizes, viu também 
Inácia sorrir quando as via brincar. Negrinha arregalava os olhos: havia um 
cavalinho de pau, uma boneca loura, de louça. Interrogada se nunca havia 
visto uma boneca, a menina disse que não… e pôde, então, pegar aquele 
serzinho angelical : “E muito sem jeito, como quem pega o Senhor Menino, 
sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços d’olhos para a 
porta. Fora de si, literalmente…” Teve medo quando viu a patroa, mas 
D. Inácia, diante da surpresa das meninas que mal acreditavam que 
Negrinha nunca tivesse visto uma boneca, deixou-a em paz, permitiu que 
ela brincasse também no jardim.

Negrinha tomou consciência do mundo e da alegria, deixara de ser uma 
coisa humana, vibrava e sentia. Mas se foram as meninas , a boneca 
também se foi e a casa caiu na mesmice de sempre. Sabedora do que 
tinha sido a vida, a alma desabrochada, Negrinha caiu em tristeza profunda 
e morreu, assim, de repente: “Morreu na esteirinha rota, abandonada de
 todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com
 maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. 
E de anjos…”

No final da narrativa, o narrador nos alerta: “E de Negrinha ficaram no 
mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas 
ricas. – “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?” 
Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia: – “Como era boa 
para um cocre!…”

É interessante considerar aqui algumas coisas: em primeiro lugar o tema 
da caridade azeda e má, que cria infortúnio para os dela protegidos, um 
dos temas recorrentes de Monteiro Lobato; o segundo aspecto que poderia 
ser observado é o fenômeno da epifania, a revelação que, inesperadamente, 
atinge os seres, mostrando-lhes o mundo e seu esplendor. A partir daí, tais 
criaturas sucumbem, tal qual Negrinha o fez. Ter estado anos a fio a 
desconhecer o riso e a graça da existência, sentada ao pé da patroa má, 
das criaturas perversas, nos cantos da cozinha ou da sala, deram a Negrinha
 a condição de bicho-gente que suportava beliscões e palavrórios, mas a 
partir do instante em que a boneca aparece, sua vida muda. É a epifania 
que se realiza, mostrando-lhe o mundo do riso e das brincadeiras infantis 
das quais Negrinha poderia fazer parte, se não houvesse a perversidade 
das criaturas. É aí que adoece e morre, preferindo ausentar-se do mundo a 
continuar seus dias sem esperança.

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