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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

RESENHA DO LIVRO " VIDAS SECAS"



Análise:

A estética da seca
"Vidas Secas" é um dos maiores expoentes da segunda fase modernista,
a do regionalismo. O diferencial desse livro para os demais da época é 
o apuro técnico do autor. Graciliano Ramos, ao explorar a temática 
regionalista, utiliza vários expedientes formais – discurso indireto livre, 
narrativa não-linear, nomes dos personagens – que confirmam 
literariamente a denúncia das mazelas sociais.

O livro consegue desde o título mostrar a desumanização que a seca 
promove nos personagens, cuja expressão verbal é tão estéril quanto o 
solo castigado da região. A miséria causada pela seca, como elemento 
natural, soma-se à miséria imposta pela influência social, representada 
pela exploração dos ricos proprietários da região.

Os retirantes, como o próprio nome indica, estão alijados da possibilidade 
de continuar a viver no espaço que ocupavam. São, portanto, obrigados a 
retirar-se para outros lugares. Uma das implicações dessa vida nômade dos 
sertanejos é a fragmentação temporal e espacial.

Graciliano Ramos conseguiu captar essa fragmentação na estrutura de 
Vidas Secas ao utilizar um método de composição que rompia com a 
linearidade temporal, costumeira nos romances do século XIX.

A proposital falta de linearidade, ou seja, de capítulos que se ligam 
temporalmente, por relações de causa e de consequência, dá aos 13 
capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite, até mesmo, a leitura 
de cada um de forma independente.

Narrador
A escolha do foco narrativo em terceira pessoa é emblemática, uma vez 
que esse é o único livro em que Graciliano Ramos utilizou tal recurso. 
Trata-se, na verdade, de uma necessidade da narrativa, para que fosse 
mantida a verossimilhança da obra. Por causa da paupérrima articulação 
verbal dos personagens, reflexo das adversidades naturais e sociais que 
os afligem, nenhum parece capacitado a assumir o posto de narrador.

O autor utilizou também o discurso indireto livre, forma híbrida em que 
as falas dos personagens se mesclam ao discurso do narrador em terceira 
pessoa. Essa foi a solução para que a voz dos marginalizados pudesse 
participar da narração sem que tivessem de arcar com a responsabilidade 
de conduzir de forma integral a narrativa.

Espaço
A narrativa é ambientada no sertão, região marcada pelas chuvas escassas 
e irregulares. Essa falta de chuva – somada a uma política de descaso do 
governo com os investimentos sociais – transforma a paisagem em ambiente 
inóspito e hostil.

Inverno, na região, é o nome dado à época de chuvas, em que a esperança 
sertaneja floresce. O sonho de uma existência menos árida e miserável 
esboça-se no horizonte e dura até as chuvas cessarem e a seca retornar 
implacável. No romance, essa esperança aparece no capítulo “Inverno”, em 
que Fabiano alimenta a expectativa de uma vida melhor, mais digna.

O retorno à visão marcada pela falta de perspectivas recomeça com o fim 
das chuvas, com o fim da esperança. Na obra, pode-se apontar, também, para 
dois recortes espaciais: o ambiente rural e o urbano. A relevância desse recorte 
se deve às sensações de adequação ou inadequação dos personagens em um 
ou outro espaço.

Fabiano consegue, apesar da miséria presente, dominar o ambiente rural. 
Incapaz de se comunicar, o personagem, desempenhando a solitária função 
de vaqueiro, não sente tanto as consequências de seu laconismo. Além disso, 
conhece as técnicas de sua profissão, o que lhe dá uma sensação de utilidade 
e permite que goze até de certa dignidade. A passagem em que seu filho o 
admira ao vê-lo trabalhando deixa claro isso. Na cidade, porém, Fabiano 
vivencia, a cada nova experiência, o sentimento de inadequação. 
Os capítulos “Festa” e “Cadeia” ilustram bem essa sensação.

Tempo
Além da falta de linearidade do tempo, em "Vidas Secas" há nítida valorização 
do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. Essa opção do narrador 
de ocultar os marcadores temporais tem como principal consequência o 
distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do tempo.

Dessa forma, nota-se que a ausência de uma marcação cronológica temporal 
serve, enquanto elemento estrutural, como mais uma forma de evidenciar a 
exclusão dos personagens. Por outro lado, a valorização do tempo psicológico 
na narrativa faz com que as angústias dos personagens fiquem mais próximas 
do leitor, que as percebe com muito mais intensidade.

Comentário do Professor
A professora de Literatura do Cursinho do XI Ausonia Reda Luppi frisa que 
"Vidas Secas" é um romance cíclico. São 13 capítulos independentes que 
contam a retirada de uma família. Inicia-se com uma mudança e termina com 
a fuga.

A família é composta pelo pai – Fabiano – que quase não fala, não sabe que é 
branco e não sabe ler nem escrever. Sinhá Vitória, mulata esperta que sabia 
fazer contas com os grãos, Menino mais velho que queria saber ler e queria o 
significado da palavra Inferno. Menino mais novo, queria ser um vaqueiro 
como o pai. Cadela Baleia, a mais humana das personagens e um papagaio que
não falava, só latia porque era o único som que escutava.

Segundo a professora, o vestibular pode cobrar a hierarquia apresentada no livro: 
como por exemplo, o que representa o Soldado Amarelo e a linguagem do 
Tomás da bolandeira, a quem Fabiano tanto admirava. Além disso, pode ser 
perguntado sobre o grau de miserabilidade dessa família: a cadela chegando
ao nível humano e o humano descendo à condição de animal. Esta família 
vaga pela caatinga tentando chegar em algum lugar, mas podem estar 
perdidos, andando em círculo.

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