A obra se articula a partir de alguns fatos: a devoção e fidelidade de Peri,
índio goicatá, a Cecília; o amor de Isabel por Álvaro, e o amor deste por
Cecília; a morte acidental de uma índia aimoré por D. Diogo e a
conseqüente revolta e ataque dos aimorés, tudo isso ocorrendo com
uma rebelião dos homens de D. Antônio, liderados pelo ex-frei
Loredano, homem ambicioso e mal-caráter, que deseja saquear a casa
e raptar Cecília.
No início do século XVII, um dos fundadores do Rio de Janeiro, o fidalgo
No início do século XVII, um dos fundadores do Rio de Janeiro, o fidalgo
português D. Antônio de Mariz, em protesto contra a dominação espanhola
(1580-1640), estabelece-se em plena floresta, construindo um verdadeiro
solar medieval junto a um rochedo inexpugnável. Vive com sua mulher,
o filho, D. Diogo, a filha, Cecília e uma mestiça, Isabel, apresentada como
sobrinha, mas que na realidade é sua filha natural. Junto à casa dos Mariz,
vive um bando de mais ou menos quarenta aventureiros. Estes homens
entram no sertão, fazendo o contrabando de ouro e pedras preciosas e
deixando um percentual para D. Antônio.
Logo em seguida à chegada da nobre família portuguesa, um jovem e
Logo em seguida à chegada da nobre família portuguesa, um jovem e
hercúleo cacique, Peri, salva Cecília de enorme pedra prestes a desabar
sobre ela. Ao receber o agradecimento dos brancos pelo gesto, (exceto
da mulher de D. Antônio, que abomina índios), Peri abandona sua tribo e
passa a viver junto a eles, numa pequena choupana. Desta maneira, o
indígena confirma uma visão que tivera com Nossa Senhora, a qual lhe
ordenara que a servisse. E Cecília (a quem Peri chama de Ceci) tinha as
mesmas feições da Virgem Maria. Era a ela, portanto, que o índio devia
obediência e proteção.
Em princípio, Ceci manifesta um pouco de medo e repugnância pelo
Em princípio, Ceci manifesta um pouco de medo e repugnância pelo
guarani. Este, entre outras façanhas, captura uma onça viva para
mostrá-la a sua Iara (senhora). Também desce ao fundo de um penhasco,
tomado por répteis e cascavéis, para apanhar um estojo com uma jóia da
heroína. Apoiada pelo pai, que percebera a nobreza do índio ("É um
cavalheiro europeu no corpo de um selvagem"), a jovem começa a
simpatizar com seu estranho protetor.
Entre os aventureiros que vivem sob a égide dos Mariz, dois merecem
Entre os aventureiros que vivem sob a égide dos Mariz, dois merecem
destaque. Álvaro de Sá, rapaz de impulsos nobres e gestos superiores e
que ama respeitosamente Ceci, embora, por seu turno, seja amado por
Isabel. E o antigo frade carmelita, Angelo di Lucca - hoje Loredano -
que abandonara o hábito depois de se apossar de um mapa de riquíssimas
minas de prata, pertencente a um moribundo. Homem cruel e decidido,
quer, antes de alcançar as hipotéticas minas, possuir Ceci, pela qual
professa um desejo animalesco.
Simultaneamente, por um terrível equívoco (que aliás não lhe causa
Simultaneamente, por um terrível equívoco (que aliás não lhe causa
nenhum trauma), D. Diogo, o filho de D. Antônio, mata a filha do cacique
dos aimorés, pensando se tratar de um animal. Os aimorés ("povo sem
pátria e sem religião") querem vingança, exigindo em troca a vida da doce
Ceci. Desejada impuramente por Loredano e perseguida pelos ferozes
aimorés, quem poderia salvá-la de tantas adversidades?
Peri revela então a extensão de sua fidelidade aos portugueses. À medida
Peri revela então a extensão de sua fidelidade aos portugueses. À medida
em que centenas de aimorés iniciam o cerco final ao casarão, o herói -
desobedecendo a sua "senhora" - parte para o acampamento dos inimigos
e após derrubar vários deles, é preso e levado para o ritual antropofágico.
Na hora da cerimônia, ingere poderosa dose de curare, um veneno terrível.
Assim, quando os selvagens o devorassem, morreriam todos. Desta forma,
Peri propõe o genocídio dos índios para que os brancos continuassem a
viver livremente.
No entanto, quando o veneno já corrói as entranhas do bravo guerreiro,
No entanto, quando o veneno já corrói as entranhas do bravo guerreiro,
Álvaro de Sá irrompe de surpresa no acampamento, com alguns amigos,
e o resgata. Peri volta para Ceci mais morto do que vivo, mas a heroína
do romance (já se sentido afetivamente ligada ao índio) exige que ele tente
se salvar. Cambaleante, Peri vaga pela floresta até encontrar o antídoto para
o curare.
Quanto ao pérfido ex-padre, Loredano, acaba sendo desmascarado pelo herói,
Quanto ao pérfido ex-padre, Loredano, acaba sendo desmascarado pelo herói,
do mesmo modo que os seus principais asseclas. No final da narrativa, por
causa de seus crimes e de sua monstruosidade moral, arderá em uma fogueira.
O cerco dos aimorés torna-se cada vez mais terrível. Álvaro morre ao buscar
O cerco dos aimorés torna-se cada vez mais terrível. Álvaro morre ao buscar
víveres na floresta, confessando antes à Isabel que lhe retribuía a paixão.
Peri consegue recuperar o corpo do rapaz. Desesperada, Isabel pede que o
índio o deposite em seu quarto. Depois, fecha todas as frestas do quarto e
asfixia-se com a fumaça de resinas aromáticas, morrendo por amor, na cena
mais bela do romance.
Durante o ataque, D. Antônio, ao perceber que não havia mais condições de
Durante o ataque, D. Antônio, ao perceber que não havia mais condições de
resistir, incumbe Peri à salvar Cecília, após tê-lo batizado como cristão. Os
dois partem, com Ceci adormecida e Peri vê, ao longe, a casa explodir.
A Cecília só resta Peri.
Durante dias Peri e Cecília rumam para destino desconhecido e são
Durante dias Peri e Cecília rumam para destino desconhecido e são
surpreendidos por uma forte tempestade, que se transforma em dilúvio.
Abrigados no topo de uma palmeira, Cecília espera a morte chegar, mas
Peri conta uma lenda indígena segundo qual Tamandaré e sua esposa se
salvaram de um dilúvio abrigando-se na copa de uma palmeira desprendida
da terra e alimentando-se de seus frutos. Ao término da enchente, Tamandaré
e sua esposa descem e povoam a Terra.
As águas sobem, Cecília se desespera. A lenda de Tamandaré se repete e
As águas sobem, Cecília se desespera. A lenda de Tamandaré se repete e
Peri com uma grande força arranca a palmeira e faz dela uma canoa para
poderem continuar pelo rio, dando início à população brasileira.
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