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domingo, 2 de fevereiro de 2014

RESUMO DO LIVRO "O CRIME DO PADRE AMARO"



Análise da obra

Publicado em 1875, O Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós,
 é, simultaneamente uma obra-prima, um documento humano e 
social do país e de uma época, a expressão literária de uma realidade 
que a história confirma. A narrativa recria o coloquialismo português.
A ação da obra acontece em Leiria, interior de Portugal, onde é 
abrangido principalmente o ambiente de igreja, sacristia e casa 
de beatas. O autor ataca violentamente os vícios da sociedade da 
época e denuncia a hipocrisia burguesa e os abusos do clero.

Não há personagens livres da crítica ferina de Eça de Queirós, 
tanto no meio eclesiástico quanto no círculo de "amizades" e 
"devotas" que rodeia os padres. Quase todos os personagens são 
apresentados de forma sarcástica, irônica e crítica, sendo raras 
as exceções.

O Crime do Padre Amaro, introduz o realismo-naturalismo em 
Portugal. Eça de Queirós combate vivamente essa instituição da 
igreja católica, atacando dura e diretamente os jogos de aparências 
e o pseudomoralismo de que se costumam revestir certos dogmas e 
costumes religiosos. Este é o tema central deste romance. 
Paralelamente ao tema central, outros percorrem a obra como a 
contradição que existe entre o que os padres pregam e o que 
fazem de verdade. Outra denúncia que se faz, esta de ordem 
sócio-econômica, é a contraposição da pobreza à vida abastada 
dos clérigos. Mas a maledicência, a bisbilhotice, a futilidade, a
superficialidade, o vazio interior da pessoas, o desejo do poder 
através da religião, o emprego da religião como força política e a 
crítica ao culto da aparência e da convenção também se fazem 
presente nesta obra de Eça de Queirós.

Personagens:
Amaro - protagonista do romance. Um jovem padre, bonito, mesmo 
um pouco curvado, de olhos negros, ambicioso. Tornou-se sacerdote 
sem ter a vocação para isso. Via maus exemplos de outros padres e 
deixando de lado seus escrúpulos, começou a agir como muitos dos 
seus colegas.

Amélia - filha da sra. Augusta Caminha. Jovem bonita, de pela alva 
e olhos muito negros.

João Eduardo - sujeito alto, bigodes que caem nos cantos da boca. 
É escrevente e nutre por Amélia uma paixão desmedida.

Cônego Dias - padre idoso, rico, influente, morador de Leiria, 
conselheiro e confidente do Pe. Amaro, de quem tinha sido professor 
de Moral no seminário; amante não declarado de D. Augusta Caminha, 
conhecida como S. Joaneira.

S. Joaneira - mãe de Amélia, chamada Augusta Carmina. Era 
chamada assim por ser nascida em São João da Foz.

D. Maria da Conceição - viúva rica. Tinha no queixo um sinal 
cheio de cabelos e quando sorria mostrava grandes dentes esverdeados.

D. Josefa - solteirona, irmã do Cônego Dias, com quem morava.

D. Maria Assunção - beata rica.

Conde de Ribamar - pessoa influente junto ao governo, casado 
com uma das filhas da marquesa que criou Amaro.

Libaninho - beato fofoqueiro, efeminado.

As senhoras Gansosos - duas irmãs, chamadas Joaquina e Ana. 
Joaquina era a mais velha, muito magra, de olhos muito vivos. 
A sra. Ana era muito surda, Nunca falava. Tinha muita habilidade 
em recortar papéis para caixas de doce.

Resumo

Por decisão da marquesa que o educara na infância, Amaro seria 
padre. Dois anos antes de ir para o seminário, ele passou a morar 
na casa de um tio pobre, que o punha para trabalhar. O período 
sofrido na casa do tio o animou a ingressar no seminário, ainda 
que fosse somente para ficar livre daquela vida. Às vésperas, porém, 
de mudar-se para o seminário, já não estimava tanto a idéia: tinha 
vontade de estar com as mulheres, de abraçar alguém, de não se 
sentir só. Julgava-se infeliz e pensava em matar-se. Às escondidas, 
na companhia de colegas, fumava cigarros. Emagrecia, andava meio 
amarelo. Começava a sentir desânimo pela vida de padre, porque não 
poderia casar-se.

No seminário, isolados da cidade e da convivência com estranhos, 
Amaro e seus colegas, na maioria não vocacionados para o sacerdócio, 
viviam tristemente. Amaro não deixara muita lembrança boa para trás. 
Mesmo assim, tinha saudades dos passeios, da volta da escola, das 
vitrines das lojas, onde parava para apreciar a nudez das bonecas. 

Amaro não desejava nada, mas, influenciado pelos que queriam até 
fugir do seminário, ficava nervoso, perdia o sono e desejava as mulheres. 
A disciplina do seminário deu-lhe hábitos maquinais; interiormente, 
porém, os desejos sensuais moviam-se como um ninho de serpentes. 
Logo depois de ordenado padre, Amaro ficou sabendo que a marquesa 
havia morrido e não deixara herança nenhuma para ele. Foi nomeado 
para Feirão, região muito pobre, de pastores, quase desabitada. Ficou 
lá um tempo, cheio de tédio. Indo a Lisboa, procurou a Condessa de 
Ribamar, uma das filhas da marquesa que o educara. Ela lhe prometeu 
interceder por ele junto a ministro amigo do conde, seu marido. Uma 
semana depois, Amaro estava nomeado para Leiria, sede de bispado, 
apesar de ser padre novo – o ministro intercedera junto ao bispo.

Orientado pelo Côn. Dias, o novo pároco foi morar na casa da S. 
Joaneira, contrariando a opinião do coadjutor – padre auxiliar, pessoa 
de respeito mas sem influência – o qual havia ponderado que isso seria 
imprudente por causa de Amélia, poderia haver comentários maliciosos. 
O quarto do Pe. Amaro ficava no térreo, exatamente embaixo do quarto 
de Amélia, cuja movimentação ele podia ouvir nitidamente.

Na noite do primeiro dia de Amaro na casa da S. Joaneira, ela reuniu 
algumas velhas, João Eduardo e o Cônego Dias. Jogaram o lote. 
Por coincidência, Amaro e Amélia, sentados lado a lado, quinaram. 
O jovem padre ficou impressionado com a moça. Depois que todos 
saíram e os de casa se deitaram, Amaro foi buscar água na cozinha e viu 
Amélia de camisola. Ela se escondeu, mas não o censurou. No quarto, 
nervoso, atormentado pela visão de Amélia, Amaro não conseguiu rezar 
nem dormir.

Amélia também não dormiu logo e ficou recordando sua vida. Não chegou 
a conhecer o pai, militar, que morreu novo. Com 15 anos de idade, ela teve 
a primeira experiência de ser amada e de amar, quando passou umas férias 
na praia. Na véspera de o rapaz partir, ele a beijou sofregamente, às 
escondidas. Algum tempo depois, já em Leiria, ela soube que ele ia se 
casar com outra. Triste e acreditando não voltar mais a ter alegria, 
Amélia tornou-se uma beata e pensou em se fazer freira. Por esse tempo, 
o Côn. Dias e sua irmã Josefa começaram a freqüentar a casa em que 
Amélia morava. Falava-se muito da ligação do cônego com a mãe dela. 
Aos 23 anos, a moça conheceu João Eduardo, que chegou a falar em 
casamento, mas ela quis esperar até que o rapaz obtivesse o lugar de 
amanuense, a ele prometido.

Amaro estava se sentindo bem em sua rotina: celebrava a missa cedo 
para um grupo de devotas; à tarde e à noite deliciava-se na companhia 
doméstica da S. Joaneira e sobretudo de Amélia. Atraídos um pelo outro, 
estavam liberando os sentimentos. Na presença do noivo, porém, a moça 
nem olhava para o padre, o que lhe causava ciúmes.

Numa tarde, Amaro chegou sem ser esperado e flagrou o Cônego Dias 
na cama com a S. Joaneira. Ficou surpreso e saiu sem ser notado. 
Em contato com outros padres, ficou sabendo que eles tinham casos 
com mulheres.

Aos poucos, Amaro e Amélia começaram a demonstrar, um para o 
outro, seu envolvimento emocional. Ela se tornou totalmente apaixonada: 
acompanhava-o com os olhos sempre e, quando ele não estava em casa, 
ia ao quarto dele, colecionava os fios de cabelo que tinham ficado no 
pente, beijava o travesseiro. Tinha ciúmes dele ao saber que alguma 
mulher o escolhera como confessor.

Amedrontado com a evolução de seus sentimentos e temendo se deixar 
dominar pela paixão, Amaro pediu ao Cônego Dias que lhe arrumasse 
outra moradia, onde vivesse sozinho. Assim se fez.

Por sua vez, Amélia se sentia desconsolada pelo afastamento de Amaro. 
Depois de algum tempo, ele voltou a freqüentar a casa da S. Joaneira. 
Os dois não estavam conseguindo mais esconder a paixão recíproca. 
Enciumado, João Eduardo tentou apressar o casamento. Amélia estava 
enfastiada dele, mas tentou fingir-se apaixonada, para evitar escândalo. 
Mesmo assim, a paixão pelo padre falava mais forte.

Certa noite, indignado por ver Amaro segredar algo no ouvido de 
Amélia, João Eduardo redigiu e fez publicar no jornal de Leiria um 
artigo: “Os modernos fariseus”, no qual ele contava as imoralidades 
de alguns padres da cidade, inclusive do Cônego Dias e do Pe. 
Amaro, a quem chamou de sedutor de donzelas inexperientes. 
Os padres mencionados se enfureceram e passaram a investigar 
quem seria o autor.

Abalada com as possíveis repercussões do artigo e magoada com o 
que ela achou covardia de Amaro (depois do artigo ele sumiu da 
casa dela), Amélia aceitou marcar o casamento com João Eduardo.

De fato, Amaro se retraíra. Seus sentimentos estavam confusos; 
não teria mesmo coragem de assumir o amor de Amélia e abandonar 
o sacerdócio, mas crescia sua raiva contra João Eduardo.

Através da confissão da mulher do responsável pelo jornal, os padres 
vieram a saber quem havia redigido o artigo maldito. A vingança foi 
cruel: João Eduardo perdeu o emprego, por influência deles. Ao contar 
para Amélia quem fora o articulista, Amaro afirmou que não deixaria, 
em nome de Deus, que ela se casasse com um ateu. Ao dizer isso, 
ela primeira vez os dois se beijaram com paixão.

A moça desfez o noivado. Desolado, João Eduardo procurou 
apoio e não recebeu: ninguém queria manifestar-se claramente 
contra o clero.

Nesse meio corrompido, em que impera a hipocrisia, acaba por 
dar vazão a seus piores instintos. Assim, não hesita em trair os 
votos de castidade (esse foi o crime do padre), ao se transformar 
em amante da jovem Amélia, com quem encontrando secretamente, 
acabam por ter a notícia de que Amélia estaria esperando um filho.

Então, Amaro fica desesperado porque não pode se casar por ser um 
padre e tenta casá-la com Eduardo. No entanto, Eduardo já havia partido 
e não foi possível fazer-se o acordo.

Com isso, os dias se passam até que Amaro fez com que Amélia fosse 
para o interior cuidar da irmã do cônego Dias que estava doente. Ela 
teria que ficar por ali até o filho nascer.

Nesse tempo Amaro ficou tentando encontrar uma ama que pudesse 
criar o seu filho quando nascesce, e por indicação de Dionísia, ele 
acabou optando por entregar o filho a uma senhora que se chamava 
Carlota, que era “tecedeira de anjos”, pois todos os bebês que chegavam 
até ela, eram mortos (o livro não explica como ela os matava...).

Enfim chegou o dia e o bebê, que iria se chamar Carlos, nome dado por 
Amélia, nasceu. Imediatmente o entregaram a Carlota. Porém depois 
disso, Amélia começou a choramingar e a pedir que lhe tragam seu filho. 
O Doutor Gouveia manda Dionísia distraí-la. Amélia então começa a 
sentir um peso na cabeça e a sentir faíscas diante dos olhos. E logo 
começou a ter convulsões. O Doutor Gouveia ficou ali tentando fazer 
alguma coisa para salvá-la, mas não adiantou. Amélia morreu.

Amaro quando soube, chorou muito e foi aí que tomou uma decisão. 
Iria voltar para Lisboa, levar consigo a escolástica, e educar lá a criança 
como sobrinho. Então resolveu ir até a casa da Carlota onde estava o filho. 
Chegando lá, Carlota disse que infelizmente a criança havia morrido...

Furioso de ódio, ele montou no cavalo e pediu ordens ao vigário-geral 
 para ir embora. Escreveu ao cônego Dias e disse que iria embora acabar 
os dias nas lágrimas, na meditação e na penitência. e assim foi-se embora 
para Lisboa.

Tempos depois o Cônego Dias chegou à Lisboa e encontrou-se com Amaro. 
Deu notícias de todos e o lembrou-se da carta que Amaro havia escrito à ele
onde dizia ir para o convento, passar a vida na penitência.

Simplesmente o padre Amaro encolheu os ombros e disse:

- “Que quer você, padre-mestre? Naqueles primeiros momentos... 
Olhe que me custou! Mas tudo passa...”

- “Tudo passa, disse o cônego”.
O livro termina com os dois conversando junto as grades do monumento 
de Luís de Camões, juntamente com o Sr. Conde de Ribamar que aparecera.

‘Entre o largo onde se erguiam duas fachadas tristes de igreja, e o renque 
comprido das casarias da praça onde brilhavam três tabuletas de casas de 
penhores, negrejavam quatro entradas de taberna, e desembocavam, com 
um tom sujo de esgoto aberto, as vielas de todo um bairro de prostituição 
e de crime”.

- “Vejam, ia dizendo o conde: vejam todoa esta paz, esta prosperidade, 
este contentamento... Meus senhores, não admira realmente que sejamos 
a inveja da Europa!

Outras características:

No final do romance, Amaro, sem nenhum escrúpulo, livra-se de Amélia e 
da criança e parte para Lisboa.
Pode-se dizer que O Crime do Padre Amaro foi concebido como uma espécie 
de teorema. Amaro é hipócrita, corrompido, porque vive num meio que não 
lhe permite desenvolver positivamente o caráter. Conclusão: irá se tornar um 
homem inescupuloso.
Portanto deve-se considerar que o alvo da crítica de Eça de Queirós, não é 
propriamente o padre Amaro, mas a sociedade que o criou e deformou. 
or aí se vê que o romance de tese tem um fim moral: criticar o meio social 
que produz indivíduos como Amaro.
Se em O Crime do Padre Amaro o alvo da crítica era o clero, em O Primo 
Basílio, também de Eça de Queirós, o alvo da crítica era a burguesia.

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