Páginas

sábado, 14 de maio de 2016

UMA LENDA, LINDA LENDA






Existe uma história de simplicidade linda, que eu gostaria 
de contar. Um lenda, um acalanto... Não sei se é verdade... e 
não me importo com isso. Não precisa ser... Foi há muito tempo 
atrás... depois do mundo ser criado e da vida completá-lo.



Num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno. Um encontro 
entre Deus e um de seus incontáveis anjos. Acredita?



Deus estava sentado, calado. Sob a sombra de um pé 
de jabuticaba. Lentamente sem pecado, Deus erguia suas mãos, 
então colhia uma ou outra fruta. Saboreava sua criação negra 
e adocicada. Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um sorriso 
piedoso. Mantinha seu olhar complacente. Foi então que das nuvens 
um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção.


Já ouviu a voz de um anjo?
É como o canto de mil baleias.
É como o pranto de todas as crianças do mundo.
É como o sussurro da brisa.
Ele tinha asas lindas... brancas, imaculadas. Ajoelhou-se aos pés 
de Deus e
falou:
— Senhor... visitei sua criação como pediu. Fui a todos os cantos. 
Estive no sul, no norte.No leste e oeste. Vi e fiz parte de todas 
as coisas. Observei cada uma de suas crianças humanas. E por 
ter visto, vim até o Senhor... para tentar entender. Por que? 
Por que cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa? 
Nós anjos temos duas... podemos ir até o amor que o 
Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para 
a liberdade sempre que quisermos. Mas os humanos com sua única 
asa não podem voar. Não podem voar com
apenas uma asa.
Deus, na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo.
— Sim... eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa...
Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor, o anjo queria 
entender e perguntou:
— Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa 
quando são necessárias duas asas para se poder voar... para se 
poder ser livre?”
Conhecedor que era de todas as respostas, Deus não teve pressa 
para falar. Comeu outra jabuticaba, obscura e suave.
Então, respondeu:
— Eles podem voar sim meu anjo. Dei aos humanos apenas uma 
asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou 
vocês, meus arcanjos... Para voar, meu amigo, você precisa de 
suas duas asas... Embora livre, sempre estará sozinho. Talvez 
da mesma maneira que Eu...
Mas os humanos... os humanos com sua única asa precisarão 
sempre dar as mãos para alguém a fim de terem suas duas asas. 
Cada um deles tem na verdade um par de asas... uma outra asa 
em algum lugar do mundo que completa o par.
Assim eles aprenderão a se respeitarem, pois ao quebrar a única 
asa de outra
pessoa, podem estar acabando com as suas próprias chances de 
voar.
Assim meu anjo, eles aprenderão a amar verdadeiramente outra 
pessoa... aprenderão que somente se permitindo amar, eles 
poderão voar. Tocando a mão de outra pessoa em um abraço 
correto e afetuoso eles poderão encontrar a asa que lhes falta... 
e poderão finalmente voar. Somente através do amor irão chegar 
até onde estou... assim como você meu anjo. E eles nunca...nunca 
estarão sozinhos quando forem voar.
Deus silenciou em seu sorriso.
O anjo compreendeu o que não precisava ser dito.
E assim sendo, no fim desse conto, espero que um dia você encontre 
a sua outra asa... Para finalmente poder voar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário