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domingo, 2 de fevereiro de 2014

RESUMO DO LIVRO "PAPÉIS AVULSOS"



Papéis avulsos é o terceiro livro do escritor Machado de Assis, 
em sua fase realista. Foi lançado em 1882. Os textos são 
decisivos na constituição do cânone de Machado de Assis. 
Com esse livro, a narrativa curta é legitimada como gênero de 
primeira importância no Brasil. A partir de Papéis Avulsos, onde 
há uma reunião de excelentes histórias, percebemos o grande 
aperfeiçoamento da linguagem do autor. Este livro pode ser 
considerado um momento de ruptura na escrita do autor. 
A começar pelo título, sugerindo casualidade no arranjo dos escritos, 
tem-se a postura sutilmente corrosiva e implacável na representação 
dos desvios à norma ou da incapacidade de se estabelecer uma norma 
para uma sociedade estruturada em bases contraditórias e violentas, 
sob uma camada muito tênue de civilidade. Escritos no mesmo 
período da renovação de Memórias póstumas de Brás Cubas, os 
contos reunidos no volume sistematizam traços estilísticos da forma 
livre, com que Machado de Assis inscreve sua obra no grande diálogo 
internacional da sátira menipéia, fundada no humor paródico e no 
relativismo cético. Em Papéis Avulsos as histórias se armam 
principalmente em cima do aparecer, do mostrar aquilo que se quer 
ser, exposto na trilogia da aparência dominante formada pelos 
contos A Sereníssima República, O Segredo do Bonzo e Teoria do
 Medalhão. Em Papéis avulsos, o autor começa a cunhar a fórmula 
mais permanente de seus contos: a contradição entre parecer e ser, 
entre a máscara e o desejo, entre a vida pública e os impulsos escuros 
da vida interior, desembocando sempre na fatal capitulação do sujeito 
à aparência dominante. Machado procura roer a substância do eu e do 
fato moral considerados em si mesmos; mas deixa nua a relação de 
dependência do mundo interior em face da conveniência do mais forte. 
É a móvel combinação de desejo, interesse e valor social que 
fundamenta as estranhas teorias do comportamento expressa nos 
contos que compõem os "Papéis avulsos" machadianos. 
Vamos aos contos:

Advertência: Machado avisa que apesar de serem contos separados 
há pontos comuns.

O Alienista: sátira a uma fase arrogante da medicina e uma fascinante 
análise do poder e de seus mecanismos psicológicos e sociais. 
Em O alienista o escritor nos propõe o problema da fixação de 
fronteiras entre o normal e o anormal da mente humana.

Verba testamentária: centra-se no comportamento patológico de 
seu protagonista, Nicolau. Nele, a aparente espontaneidade 
decorre de procedimentos formais que, igualmente, promovem 
a adesão do leitor ao universo ficcional. Ainda que alicerçado 
na ficção, o conto revela, a partir de uma perspectiva satírica, 
comportamentos reais, constituindo uma alegoria da natureza 
egotista do ser humano.

Teoria do Medalhão: narrado como um diálogo entre pai e filho.
A Chinela turca: um homem preso em um diálogo tedioso começa 
a se imaginar em uma narrativa fantástica. É por intermédio da 
visão que a “realidade” se confunde com o sonho. 
As transições são calcadas na visão.

Na Arca: narrado como uma escritura, com versículos. 
Os filhos de Noé, Sem, Jafé e Cam discutem sobre como dividir a 
terra após o Dilúvio. Neste conto temos uma recriação da 
linguagem bíblica.

D. Benedita: conto narrado em 3ª pessoa, versa sobre a psicologia 
feminina. A personagem é elaborada a partir do sentido do termo 
veleidade, que, no entanto, só será revelado ao leitor nas últimas 
linhas do conto. A personalidade fugaz da protagonista é contaminada 
pelo vírus da indecisão. Com breves pinceladas, à maneira de um 
pintor, surgem a hesitação, a volubilidade, a inconstância no eterno 
vai, não vai; casa, não casa; viaja, não viaja. D. Benedita é lapidada 
com tamanha perfeição que quase pode ser tocada, pressentida pelo 
leitor em suas pequenas ações.

O Segredo do Bonzo: narrado como um relato de um desbravador, 
Fernão Mendes Pinto, que visita o reino de Bungo e descobre o 
milagroso Bonzo Pomada, capaz de convencer outras pessoas.

O Anel de Polícrates: narrado como um diálogo entre transeuntes. 
Este conto, além de relatar um evento particular, constitui um caso 
exemplar do que seriam as limitações da felicidade humana ou a 
lógica caprichosa do destino. Os relatos de Cícero são exemplos de 
situações diversas: desapego em relação aos bens materiais e ironia 
diante das pequenas mentiras da vida cotidiana.

O Empréstimo: narrado como anedota. Conto onde o autor retrata 
dois personagens com visões diferentes sobre o dinheiro. Em O 
empréstimo, o autor apresenta o tabelião Vaz Nunes, em um final 
de expediente, recebendo a visita de Custódio, que veio lhe pedir 
dinheiro. O primeiro tem a capacidade de desvendar o interesse que 
se esconde atrás da aparência, o segundo tem “a vocação da riqueza, 
sem a vocação do trabalho”. Nessa hora em que se confrontam, 
revela-se a natureza de cada um deles. Machado mergulha com 
precisão detalhista no gesto de olhar por cima dos óculos, no 
movimento dos braços, no modo de pegar a carteira, na maneira de 
caminhar de cabeça erguida. São detalhes do cotidiano. Essa ação 
narrativa e o tempo que passa não trazem, contudo, transformação. 
A melancolia que perpassa essa anedota humorística deixa um travo 
amargo, posto que de fel irônico, no riso do leitor. A passagem do 
tempo não implica transformações; são personagens alegorizados e 
congelados, incapazes da mudança. É como se o destino estivesse 
consumado em vida. O leitor acompanha o confronto de disfarces 
entre os dois cavalheiros. A cada lance desse jogo, cada um dos 
contendores aparenta estar jogando a sua última cartada, ao mesmo 
tempo que cada uma das partes disfarça os trunfos de que ainda dispõe: 
a elasticidade da ambição, de um lado, e a capacidade de concessão, 
do outro. Encerrada a contenda, ambos parecem sair satisfeitos com 
o próprio desempenho cujo ganho é mínimo para um e a perda, 
insignificante para o outro.

A Sereníssima República: narrado como um texto científico, 
descrevendo a "política das aranhas" (as aranhas eram o elemento 
utilizado por Machado para formular a personificação no conto). 
A temática central do texto envolve a corrupção política e as diferentes 
formas de distorção de uma teoria que, quando submetida à prática, 
se revela como falha. Por meio de uma metáfora reflexiva, o escritor 
denuncia irregularidades políticas como resultado da apropriação das 
leis do estado.

O espelho: Machado de Assis esboça em O Espelho uma nova teoria 
da alma humana, subtítulo que dá para o conto; aliás, um estudo sobre 
o espírito contraditório do homem, simbolizado pelo espelho. Tem 
como tema a alma humana, metaforizada no espelho. Neste conto, 
o autor ironiza a sociedade da época em uma das mais arraigadas 
crenças do povo cristão, que é a existência de uma única alma 
portadora de expressão única e inabalável até então.

Uma Visita de Alcibíades: narrado como uma carta, em que um 
chefe de polícia descreve como o general grego Alcibíades apareceu 
em sua casa. É um conto em forma de carta. Um desembargador, que 
gosta de temas gregos e é espírita, invoca o grego Alcibíades. Não 
apenas seu espírito aparece, mas o homem de carne e osso. Ao ficar 
sabendo sobre a vestimenta nos dias atuais, o homem morre novamente. 
Em uma única carta ao chefe de polícia, o desembargador narra sua 
aventura. Não aparecem personagens femininas. O foco narrativo 
está em duas figuras masculinas, tanto Alcibíades quanto o 
desembargador estão conversando sobre a moda – que não seria um 
tema tradicionalmente considerado feminino? Além de tudo, este 
conto machadiano nos revela o contraste existente entre a vestimenta 
típica do homem na Grécia Antiga e a indumentária característica do 
homem no século XIX. Ao contrapor a toalete do herói grego Alcibíades 
àquela apresentada por um distinto desembargador, Machado de Assis 
acaba demonstrando como o próprio conceito de elegância e beleza sofre 
importantes modificações ao longo do tempo. Estas reflexões 
aproximam-se de algumas das principais idéias defendidas pelo poeta 
e crítico francês Charles Baudelaire, que esclarece: “cada século e cada 
povo tem a sua própria expressão de beleza e moral”. “Uma visita de 
Alcibíades” desmonta a máscara mais ostensiva da representação social 
identificada com os requintes da arte de se vestir. Ridicularizando a 
instabilidade da moda vista a partir da perspectiva de um olho estranho, 
o repertório metafórico mobilizado pela fala anacrônica do visitante 
antigo identifica, no vestuário de uma noite de gala, o estigma permanente 
do homem seduzido pela ostentação da elegância efêmera. O conto, ainda 
que seja uma sátira mordaz, é a primeira obra em prosa de ficção da 
literatura brasileira em que surge um personagem espírita. 
Nessa narrativa, o desembargador Álvarez afirma que sua conversão ao 
espiritismo é decorrente da descrença em todas as religiões. Contador de 
histórias, Álvarez relata a estranha visita que recebera de Alcibíades e 
assume, convictamente, a personalidade do personagem que interpreta: 
“Posso dizer que vivo, como, durmo, passeio, converso, bebo café e 
espero morrer na fé de Allan Kardec.

Verba testamentária: a história de um homem que nunca aceitava ser 
inferior, Nicolau B.

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