Páginas

domingo, 2 de fevereiro de 2014

RESUMO DO LIVRO "O ATENEU"



Quem aprecia uma boa leitura não pode deixar de ler o livro O Ateneu,
de Raul Pompeia. O autor narra como um garoto de cerca de 11 anos
 passa pela experiência de estudar em um internato, que dá nome ao livro.
 De inicio o jovem mescla a preocupação de abandonar o aconchego do 
lar, onde recebe todo cuidado maternal com a expectativa de poder sair 
de casa, definir sua individualidade, partir como um guerreiro para travar 
e vencer a luta contra o ambiente do Ateneu.


Sérgio, nome que recebe o garoto, já havia estado por duas ocasiões no 
Ateneu e trazia ótimas recordações do que presenciara ali. 
Eram as festividades da cidade quando pessoas tão nobres como o 
Dr. Aristarco Argolo de Ramos da conhecida família do Visconde de 
Ramos, do Norte, enchia o Império com o seu renome de pedagogo, 
o ministro do império bem como a cidade em peso; Nessas ocasiões 
havia desfiles dos alunos impecavelmente vestidos. 
Uma outra vez foi por ocasião da festa da ginástica.
 As galas do momento faziam sorrir a paisagem.
O arvoredo do imenso jardim, entretecido a cores por mil bandeiras,
 brilhava ao sol vivo com o esplendor de estranha alegria; os vistosos
 panos, em meio da ramagem, fingiam flores colossais, numa caricatura 
extravagante de primavera.

“Eu ia carregado, no impulso da multidão. 
Meu pai prendia-me solidamente o pulso, que me não extraviasse”... 
essa descrição mostra o quanto o garoto se iludia com a idéia de que o
 Ateneu era um lugar ideal para se viver. Note como o autor descreve 
o fascínio do garoto pelo Ateneu. “É fácil conceber a atração que me
 chamava para aquele mundo tão altamente interessante, no conceito 
das minhas impressões. Avaliem o prazer que tive, quando me disse 
meu pai que eu ia ser apresentado ao diretor do Ateneu e à matrícula. 
O movimento não era mais a vaidade, antes o legítimo instinto da
 responsabilidade altiva era uma conseqüência apaixonada da sedução
 do espetáculo, o arroubo de solidariedade que me parecia prender à 
comunhão fraternal da escola. Honrado engano, esse ardor franco por 
uma empresa ideal de energia e de dedicação premeditada confusamente, 
no cálculo pobre de uma experiência de dez anos”...

Mas ao chegar ao Ateneu Sérgio se depara com a fria realidade de um
 sistema onde o preconceito é marcado por distinções políticas, por 
distinções financeiras e na crônica escolar do discípulo. Levado a conhecer 
o internato, Sérgio descobre o quão severo é o rigor moral da instituição
 que não tolera a imoralidade em espécie alguma. 
 Encontrou em Rabelo um amigo que lhe ajudaria a lidar com os demais 
alunos mostrando os que eram bons e os que eram más companhias.

A solidão resultante da ausência do carinho materno aliado ao ambiente 
hostil ali encontrado logo cobrou seu tributo. Narrando os fatos ali vividos, 
o incidente no tanque de banho quando alguém covardemente o puxou para 
baixo da água quase o matando afogado é citado como recordação que não
 gostaria de ter.

Ainda outro aspecto destacado é a relação do garoto com Deus que se 
desenvolveu a partir das aulas de catequismo o que acabou resultando 
na sua descrença devido a confusa maneira dos ensinamentos a respeito
 do Todo Poderoso.

As férias que lhe daria a oportunidade de rever a família veio como um 
bálsamo. As lágrimas de alegria se misturavam com a emoção de estar 
entre os seus. O assassinato de um homem envolvido na disputa do coração
 de uma criada causou grande confusão no Ateneu, em certa noite por volta
 da hora do jantar. E assim o autor continua vivendo entre uma aventura e 
outra, entre decepções e alegrias resultantes de sua permanência no internato
 até acontecer um incêndio que destruiu parcialmente o suntuoso edifício.

Tiramos uma lição muito valiosa deste relato entre a realidade e a ilusão a 
um grande abismo, alguns quando confrontados com a realidade preferem
 viver em ilusão; outros se esquecendo das ilusões encaram a realidade e
 amadurecem mais e mais fazendo da vida a verdadeira escola e do tempo
 o verdadeiro mestre.

Análise do livro

Sérgio, o protagonista, relembra os dois anos em que viveu no internato 
chamado Ateneu, num texto marcado por características do naturalismo,
 mas que não se limita a seguir os preceitos desse movimento literário

O Ateneu, livro de Raul Pompéia que tem como subtítulo Crônica de 
Saudades, foi publicado em folhetins em 1888. Considerada uma das 
grandes obras da literatura brasileira, narra os dois anos em que Sérgio, 
o protagonista, vive no internato chamado Ateneu.

A primeira dificuldade na análise do livro é enquadrá-lo numa categoria 
fixa, ou seja, fazer uma classificação rígida sobre que tipo de romance 
ele representa. Pode ser considerado desde um relato autobiográfico até 
um romance de formação, ou ainda uma típica narrativa de cunho 
naturalista. Vistas isoladamente, no entanto, essas abordagens deixam a 
dever no entendimento final da obra.

NATURALISMO SUBVERTIDO

De acordo com os preceitos do romance naturalista, ao qual se pode 
associar o livro, depreende-se em O Ateneu uma crítica feroz às instituições
 de ensino das elites do século XIX. O colégio é visto como microcosmo 
da sociedade. Para isso, o narrador utiliza descrições de toda ordem, físicas
 ou psicológicas, levadas a cabo com rigor e riqueza de detalhes quase científicos.

A narrativa é assim apresentada num movimento linear de fora para dentro, 
do macro para o micro. É como se o leitor penetrasse em um organismo vivo.
 Inicialmente, a instituição educacional é mostrada a partir de um foco 
externo: as festas, os discursos, os ginastas e suas coreografias, a princesa 
imperial, que prestigiava os eventos, e, principalmente, a figura central de 
Aristarco, pedagogo e dono do colégio.

Desse ponto de vista, o narrador encara o Ateneu com certa perplexidade 
e maravilhamento. O colégio não se revela ainda um mundo rebaixado,
 como se verá mais tarde. Nesse nível, a percepção do que é a escola se 
situa no âmbito do discurso publicitário, “dos reclames”, no dizer do 
narrador, o que é sublinhado, de forma irônica, por meio do personagem 
Aristarco.

Esse primeiro exame dá conta do viés naturalista. Há, porém, um aspecto 
que deixa a leitura mais complexa. A estética naturalista concebe uma arte 
na qual o autor assume o papel de observador, daí seu pretenso
 distanciamento em relação à matéria narrada, para que possa criticar 
de forma mais adequada as doenças do mundo. Era a maneira – que
 naquele momento tinha grande prestígio na Europa – de conceber
 as artes: o artista se coloca como cientista e se isola do mundo por 
ele examinado.

Em O Ateneu, no entanto, há um narrador-protagonista. 
O foco em primeira pessoa subverte os preceitos naturalistas, de isenção
 e distanciamento. Sérgio narra e comenta o mundo narrado. 
Desse modo, a compreensão sobre o que é o Ateneu se estrutura na obra
 com as impressões do personagem principal. E, como elemento complicador, 
isso se realiza pautado na perspectiva adulta. O romance é um relato das 
memórias de Sérgio a respeito dos dois anos em que passou no internato.

Há, então, uma matéria narrada (o mundo do Ateneu), impregnada da 
consciência, das impressões do narrador, e recuperada por sua memória 
daquele tempo. Essa atitude literária afasta a obra do modelo clássico de
 realismo/naturalismo. Por outro lado, o romance abriga vários aspectos 
naturalistas, como o determinismo, a presença do homossexualismo e os 
aspectos animalescos (comparações de personagens com animais).

ESPAÇO

A obra é claramente dividida em dois espaços: fora e dentro do colégio.
 O primeiro é visto como ambiência do mundo natural.
 O segundo funciona como rito de iniciação, acontecimento traumático 
por meio do qual ocorre a passagem do universo infantil para o adulto, 
espaço para a formação do homem.

O Ateneu, contudo, em vez de formar, deforma o homem. 
Trata-se de uma formação às avessas, ou seja, o que se espera
 de uma instituição é subvertido por uma educação bárbara.
 O ensino no colégio é determinado por um espaço no qual impera 
o ideal da força sobre os mais fracos.

TEMPO

O tempo é dividido em tempo psicológico e tempo vivido.
 O primeiro é o da memória, manuseado pelo narrador da maneira 
que lhe vem na consciência. Assim, na narração temos os episódios 
que ficaram na memória narrativa do autor. Já o tempo vivido se
 circunscreve linearmente aos dois anos de internato vividos pelo 
protagonista. Isso garante complexidade à obra e confere maior 
densidade a sua leitura.

ENREDO

Após a entrada de Sérgio no Ateneu, o local é apresentado de forma 
minuciosa e estilizada. Há abundância descritiva de detalhes. 
O narrador se atém a cada episódio, buscando na memória o fio 
condutor da narrativa. Tudo isso amparado por metáforas e comparações,
 o que garante uma prosa formalmente hiperbólica, com tom de grandeza,
 como se o estilo elevasse aquele mundo por meio da linguagem.
 Assim, a cada episódio são descritos os colegas, os desafetos, os
 baderneiros, os protetores, os professores, Ema e, principalmente, Aristarco.


As relações entre esses personagens, no relato de Sérgio, formam o 
Ateneu. Esse, por sua vez, como em O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, 
funciona na estrutura do livro como personagem. Essa é mais uma das 
singularidades do romance em relação ao que prescrevia a estética 
naturalista, para a qual o meio se sobrepunha sempre ao indivíduo,
 determinando-o, como no caso do citado romance de Aluísio de
 Azevedo. Em O Ateneu, isso quase sempre ocorre, mas, na caracterização 
formal que envolve Aristarco e o Ateneu num mesmo grupo de 
características, o meio e o indivíduo se identificam. Isso torna as forças 
de determinação do meio quase nulas, colocando em ação a determinação 
estrutural edificada pelo poder – como acontece na hierarquia institucional, 
nas relações de trabalho e nas relações sociais.

Aristarco é construído no mesmo processo. Ambos – a escola e seu diretor 
– são abordados de maneira grandieloqüente, nas comparações com vultos da 
Antiguidade clássica, deuses e monumentos sacros. 
No entanto, essa construção mascara um lado torpe. Por baixo da carapaça
 de uma instituição educacional de renome, há o pior dos mundos, retratado
 em relações homossexuais degradadas, nas quais os mais fortes subjugam 
os menores.

Aristarco é visto, inicialmente, como um pedagogo-modelo. 
Essa imagem, no entanto, como a do próprio internato, não passa de
 fachada. O diretor é conivente com o ambiente mórbido das relações entre
 alunos e professores. Tome-se, por exemplo, o caso de Franco, um dos
 internos, personagem que encarna o aspecto mais doentio do colégio. 
Abandonado pela família, serve como bode expiatório para Aristarco.

Aristarco e o Ateneu se determinam um em função do outro, tanto no 
processo de sua construção como na desconstrução, quando tragicamente
 um interno ateia fogo ao colégio. Ema, esposa de Aristarco, aproveita o 
momento para fugir e abandonar o marido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário