O narrador-personagem tenta restaurar, na velhice, a adolescência
e, desta forma, viver o já havia vivido, e assim, conta a história:
Em meados de novembro de 1857, antes de perceber-se apaixonado
Em meados de novembro de 1857, antes de perceber-se apaixonado
pela vizinha Capitu, ao escutar a conversa entre José Dias e sua mãe
sobre tornar-se seminarista, Bentinho, acorda sentimentos que ainda
lhe eram despercebidos ao descobrir o amor que sentia pela moça e
ao percebê-lo correspondido.
Começa, então, elaborar planos que impeçam sua ida ao seminário.
Começa, então, elaborar planos que impeçam sua ida ao seminário.
Mas nem com planos mirabolantes Bentinho conseguiu evitar sua
partida, seguindo, então, para os estudos eclesiásticos. Lá conheceu
aquele que se tornou o seu melhor amigo, Escobar.
Depois de um tempo, convenceu sua mãe a custear os estudos de outro
Depois de um tempo, convenceu sua mãe a custear os estudos de outro
menino, e fazer dele padre em seu lugar padre em seu lugar.
Formou-se em Direito voltou para casar-se com Capitu.
Escobar também saiu do seminário, casou-se com Sancha, amiga
Escobar também saiu do seminário, casou-se com Sancha, amiga
de Capitu e engajou-se no ramo do comércio. Escobar Sancha
tiveram uma filha. A amizade de ambos os casais foi aumentando.
Bentinho e Capitu, depois de um tempo de espera, conseguiram
Bentinho e Capitu, depois de um tempo de espera, conseguiram
ter também um filho que veio a chamar-se Ezequiel, em homenagem
a Escobar.
O tempo foi passando. Escobar morreu afogado e Bentinho
O tempo foi passando. Escobar morreu afogado e Bentinho
percebeu que Capitu havia ficado muito abalada com a morte de
Escobar, mais abalada que o normal.
Bentinho passou, então, a desconfiar que houvesse certa semelhança
Bentinho passou, então, a desconfiar que houvesse certa semelhança
na aparência de entre Escobar e seu filho.
Ezequiel foi internato em uma escola, mas, nos finais de semana,
Ezequiel foi internato em uma escola, mas, nos finais de semana,
retornava a casa, deixando Bentinho atordoado com a traição
estampada no rosto de seu próprio filho. Decide, com isso, levar a
família à Europa onde Ezequiel e Capitu ficaram morando.
Dom Casmurro só voltou a ver Ezequiel quando este retorna da
Dom Casmurro só voltou a ver Ezequiel quando este retorna da
Europa anunciando a morte da mãe. Ao ver Ezequiel, Bento vê a
imagem perfeita de Escobar. Passados alguns meses, Ezequiel viaja
para o Oriente Médio e lá morre de febre tifóide.
O adultério paira nesse romance como uma incógnita, já que é
O adultério paira nesse romance como uma incógnita, já que é
apresentada uma série de provas e contraprovas sobre a traição
de Capitu.
Resumo:
Primeiramente, explica-se o nome do livro e o porquê da alcunha
Resumo:
Primeiramente, explica-se o nome do livro e o porquê da alcunha
a Bento Santiago de “Dom Casmurro”:
a) “Casmurro” faz referência a seus reclusos e calados;
b) “Dom” é o termo irônico que lhe fornece ares de fidalgo.
O narrador-personagem, depois de tentar, sem sucesso,
a) “Casmurro” faz referência a seus reclusos e calados;
b) “Dom” é o termo irônico que lhe fornece ares de fidalgo.
O narrador-personagem, depois de tentar, sem sucesso,
reconstituir a sua história através de uma cópia de sua casa na
infância, decide atar duas pontas da sua vida, através de um livro
autobiográfico que o ajudasse a restaurar o passado.
Dom Casmurro ou Bentinho, como era chamado o personagem
Dom Casmurro ou Bentinho, como era chamado o personagem
na sua infância, morava em uma casa com sua mãe a viúva D.
Glória, tio Cosme, prima Justina e, também, José Dias, agregado
da família, que já era considerado como membro desta.
Era novembro de 1857, Bentinho escutou José Dias conversando
Era novembro de 1857, Bentinho escutou José Dias conversando
com sua mãe, aconselhando D. Glória a colocar Bentinho no
seminário o mais rápido possível, a fim de cumprir uma promessa
feita no passado, pois já havia a desconfiança de que Bentinho
estivesse apaixonando-se por uma vizinha, amiga de infância, Capitu.
Após escutar a conversa Bentinho, percebe que realmente gosta
Após escutar a conversa Bentinho, percebe que realmente gosta
de Capitu. Ao declarar-se a vizinha, Bento percebe que seu
sentimento é correspondido e passa a fazer planos para não precisar
ir para o seminário. Mas Bentinho não tem êxito com seus planos e
não consegue escapar do destino imposto pela religiosidade da mãe.
Segue, então ao seminário, e lá conhece Escobar que veio a ser, mais
tarde, o seu melhor amigo.
Bentinho se empenhou em convencer a mãe a custear os estudos de
Bentinho se empenhou em convencer a mãe a custear os estudos de
outra pessoa, fazendo dele padre em seu lugar. Dessa forma, o
protagonista abandonou o seminário e foi para a faculdade de Direito.
Formou-se advogado e retornou ao local da sua infância para casar
com Capitu. O amigo Escobar também saiu do seminário e se casou
com a melhor amiga de Capitu, Sancha.
Os dois casais vão fortalecendo as amizades. Sancha e Escobar têm
Os dois casais vão fortalecendo as amizades. Sancha e Escobar têm
uma filha que recebe o nome de Capitolina em homenagem a amiga
Capitu. Depois de um longo tempo de espera, Bentinho e Capitu,
também têm um filho, quem recebe o nome de Ezequiel, como
também se chamava Escobar.
O tempo foi passando e a vida transcorrendo muito bem entre os
O tempo foi passando e a vida transcorrendo muito bem entre os
casais. Mas, um dia, Escobar morre afogado. No enterro do amigo,
Bentinho percebeu em Capitu, uma tristeza enorme que lhe pareceu
indevida. A esposa não só lhe parecia triste demais, mais do que o
normal, como também lhe aparentava, dissimular tal tristeza.
No dia seguinte ao da morte do amigo, Bentinho, ao olhar para uma
No dia seguinte ao da morte do amigo, Bentinho, ao olhar para uma
fotografia do falecido, notou certa semelhança entre ele e seu filho.
Desde então surgem fatos, situações e lembranças que o conduzem
ao adultério da esposa. Teria, Capitu, enganado Dom Casmurro?
Será que a esposa o havia traído com o seu melhor amigo?
O sentimento de traição passou a predominar e era horrível. Dom
O sentimento de traição passou a predominar e era horrível. Dom
Casmurro chegou a procurar o suicídio, mas Ezequiel fez com que
percebesse que, além do sentimento atormentador da traição e da
condição de bastardo do filho, havia também o sentimento amoroso
entre pai e filho.
“Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era
“Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era
grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para
dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e
agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a
criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o
castigo de um dia para outro.” (Capítulo cxxxii)
Ezequiel foi colocado em um internato, mas à medida que o tempo
Ezequiel foi colocado em um internato, mas à medida que o tempo
foi passando sua semelhança com o falecido foi aumentando e nos
finais de semana era impossível para Bentinho sentir-se em paz.
Bentinho não conseguiu expor claramente suas idéias para Capitu,
Bentinho não conseguiu expor claramente suas idéias para Capitu,
não houve uma conversa muito clara entre o casal e Capitu por sua
vez disse que a semelhança do menino com Escobar era casualidade
do destino, mas mesmo assim decidiram partir para uma separação
amigável, mantendo as aparências.
Bento resolveu então levar a família à Europa, e, de lá, voltou sozinho.
Bento resolveu então levar a família à Europa, e, de lá, voltou sozinho.
Embora tenha viajado outras vezes para a Europa, nunca mais voltou
a ver Capitu.
O tempo foi passando e morreram Tio Cosme, D. Glória e José Dias.
O tempo foi passando e morreram Tio Cosme, D. Glória e José Dias.
Certo dia, Ezequiel voltou da Europa anunciando a morte também de
Capitu. Dom Casmurro vê no filho a imagem perfeita de Escobar.
Passados alguns meses Ezequiel viaja para o Oriente Médio e, depois
de um tempo, morre de febre tifóide.
O narrador-personagem apresenta uma série de provas, e também
O narrador-personagem apresenta uma série de provas, e também
contraprovas como o fato de Capitu ser tão parecida com a mãe de
Sancha sem haver parentesco algum entre elas. Nenhuma das provas
do adultério de Capitu encontradas por D. Casmurro foram comprovadas.
Mortos todos, familiares e velhos conhecidos, D. Casmurro, em sua
Mortos todos, familiares e velhos conhecidos, D. Casmurro, em sua
vida fechada, ainda podia se consolar com algumas amigas, mas jamais
se esqueceu do grande amor que o havia traído com seu maior amigo.
Será que o havia traído?
A narrativa de seu livro se mostra eficaz ao tentar atar duas pontas de
A narrativa de seu livro se mostra eficaz ao tentar atar duas pontas de
sua vida: a adolescência com a velhice e após o término, para esquecer
o relembrado, o revivido, nada melhor que escrever outro livro:
Uma História dos subúrbios do Rio de Janeiro.
Narrador e foco narrativo: a história é narrada na 1ª pessoa do singular,
Narrador e foco narrativo: a história é narrada na 1ª pessoa do singular,
por um narrador-personagem, que se coloca como o escritor.
Para tentarmos nos aproximar de seu enigma, a história de Dom
Para tentarmos nos aproximar de seu enigma, a história de Dom
Casmurro apresenta como primeira chave, a própria figura deste que
ao mesmo tempo a vive e a relata.
Trata-se de um velho solitário apelidado de Dom Casmurro.
Trata-se de um velho solitário apelidado de Dom Casmurro.
O autor da alcunha, foi um rapaz que, em uma viagem de trem, se
aborreceu com a monotonia de Bento, cansado com o relato tão
monótono da sua história de vida.
Outro ponto a se ressaltar no romance é o fato de seu narrador não
Outro ponto a se ressaltar no romance é o fato de seu narrador não
ser confiável. Ele mente, distorce, confunde o leitor, com quem
conversa ao longo da narração, anunciando a metalinguagem da
literatura do século XX.
Machado de Assis adota um narrador unilateral, fazendo dele o eixo
Machado de Assis adota um narrador unilateral, fazendo dele o eixo
da forma literária. Inscrevia-se, então, entre os romancistas inovadores,
além de convergir com os espíritos adiantados da Europa, que sabiam
que toda representação comporta um elemento de vontade ou interesse,
o dado oculto a examinar, o indício da crise da civilização burguesa.
Em Dom Casmurro, a dramatização do ato de narrar é um dos
Em Dom Casmurro, a dramatização do ato de narrar é um dos
componentes essenciais do enredo e da vida do protagonista.
Tal dramatização consiste no seguinte: em vez de simplesmente
escrever uma história, Machado de Assis inventou uma personagem
(um pseudo-autor) de quem nos é dado ver o ato de escrever o seu
próprio romance.
Dom Casmurro também pode ser entendido como uma auto-análise
Dom Casmurro também pode ser entendido como uma auto-análise
de Bento Santiago, sobrevivente único de uma história de amor com
final amargo: pois Bento julga-se traído pela esposa Capitu e pelo
melhor amigo Escobar. Há vários anos após a morte da esposa e de
seu suposto amante, Bento decide escrever o livro para restaurar no
presente o equilíbrio perdido no passado.
O ponto de vista de Bento Santiago domina tudo na narrativa.
O ponto de vista de Bento Santiago domina tudo na narrativa.
Até mesmo as demais personagens não passam de projeções de sua
alma. São lembranças do seu passado, que vão ressurgindo do
subsolo da memória à medida que ele procura a reconstrução de
si mesmo.
Linguagem: Machado de Assis utiliza alguns aspectos centrais na
Linguagem: Machado de Assis utiliza alguns aspectos centrais na
linguagem de Dom Casmurro: reflexões metalingüísticas, as ironias
às expectativas do leitor, as digressões. Através delas, o narrador
nos revela, como se os estivesse escondendo, não só os “bastidores”
sombrios da personalidade de Bentinho, mas também a própria
arquitetura do romance.
Por Exemplo, no capítulo 59 encontramos o seguinte trecho:
“Nada se emenda bem nos livros confuso, mas tudo se pode meter
Por Exemplo, no capítulo 59 encontramos o seguinte trecho:
“Nada se emenda bem nos livros confuso, mas tudo se pode meter
nos livros omissos (...). É que tudo se acha fora de um livro falho,
leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes
também preencher as minhas.”
Esse fluxo é trabalhado literariamente ao longo do romance.
Esse fluxo é trabalhado literariamente ao longo do romance.
Portanto na linguagem de Dom Casmurro há reflexão metalingüística
— sempre recoberta pela ironia de seu ritmo, de sua não linearidade,
da presença de “reticências”.
O espaço: em Dom Casmurro, Bentinho, o protagonista morou toda
O espaço: em Dom Casmurro, Bentinho, o protagonista morou toda
a sua infância na rua de Matacavalos, em companhia de sua grande
amiga e vizinha.
Bentinho só sai de lá, para entrar para o seminário em cumprimento
Bentinho só sai de lá, para entrar para o seminário em cumprimento
de uma promessa que a mãe fizera e que não poderia ser quebrada.
Em sua terra natal, o jovem deixa a mãe, o tio e seu grande amor, a
vizinha.
Ao voltar, casa-se com Capitu, sua melhor amiga e também seu
Ao voltar, casa-se com Capitu, sua melhor amiga e também seu
grande amor. Vão morar nos altos da Tijuca, na Praia da Glória,
mas fazem visitas freqüentes a Matacavalos, onde agora moram o
pai de Capitu, a mãe de Bentinho, assim como parentes e amigos.
Cada uma dessas regiões é explorada em seu texto, bem como as
Cada uma dessas regiões é explorada em seu texto, bem como as
pessoas com quem Bentinho conviveu e que interagem no enredo.
O livro é narrado, com emoção e riquezas de detalhes.
Personagens:
Bento Santiago: quando jovem era um pouco mais baixo que Capitu.
Personagens:
Bento Santiago: quando jovem era um pouco mais baixo que Capitu.
Não apresentava traços físicos definidos e revela-se como um moço
rico, mimado pela mãe e, talvez por isso, não apresentasse o mesmo
espírito vivaz e a iniciativa de Capitu. Comenta-se que,
aproximadamente aos vinte e dois anos de idade, Bentinho se
parecia muito com o pai:
“[...] sim tem alguma coisa, os olhos, a disposição do rosto.
“[...] sim tem alguma coisa, os olhos, a disposição do rosto.
É o pai um pouco mais moderno, concluiu por chalaça.”
No passado dividia-se entre a mãe e a vizinha. Conforme
No passado dividia-se entre a mãe e a vizinha. Conforme
escreve, o livro divide-se entre o passado e o presente.
Tanto acusa quanto louva a falecida esposa.
Bento não pretendia ser padre como determinava sua mãe,
Bento não pretendia ser padre como determinava sua mãe,
sua intenção era casar-se com Capitu, sua amiga de infância.
Depois de velho e da perda de seus familiares passa a viver isolado.
Ele mesmo diz:
“Uso louça velha e mobília velha “
“Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras.
Ele mesmo diz:
“Uso louça velha e mobília velha “
“Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras.
O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem
e não durmo mal”.
Capitolina: no inicio na narrativa, está com 14 anos e é um
Capitolina: no inicio na narrativa, está com 14 anos e é um
pouquinho mais alta do que Bentinho. Tem os cabelos grossos
negros e compridos até a cintura. Seus olhos são negros e
misteriosos a ponto de despertar no narrador a comparação
com a ressaca do mar, é esperta, inteligente, extrovertida,
criativa e previdente.
É ela que pensa primeiro num plano para livrar Bentinho do seminário
É ela que pensa primeiro num plano para livrar Bentinho do seminário
e que desperta nele o impulso do primeiro beijo e que, após sua entrada
no seminário, fica o maior tempo possível ao lado de D. Gloria.
Torna-se querida de tal forma, que, quando José Dias usa a palavra
nora D. Gloria sorri como quem aceita.
O narrador mostra, nas entrelinhas, a parca condição financeira da
O narrador mostra, nas entrelinhas, a parca condição financeira da
jovem Capitu:
“apertada em um vestido de chita, meio desbotado. [...] As mãos, a
“apertada em um vestido de chita, meio desbotado. [...] As mãos, a
despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor [...] Calçava
sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos”.
Escobar: conhece Bento no seminário e logo se tornam amigos
Escobar: conhece Bento no seminário e logo se tornam amigos
inseparáveis. Tem grande facilidade com números, por isso, sonha
em ser comerciante e, assim que abandona o seminário, dedica-se
ao negócio de café. É o grande desencadeador da trama, pois Bento
acredita que ele tornou-se amante de sua esposa, Capitu.
José Dias definiu Escobar como um rapaz polido de olhos claros e
José Dias definiu Escobar como um rapaz polido de olhos claros e
dulcíssimos. O narrador o descreve da seguinte forma:
“A cara rapada mostrava uma pele alva e lisa. A testa é que era um
“A cara rapada mostrava uma pele alva e lisa. A testa é que era um
pouso baixa, vindo a risca do cabelo quase em cima da sobrancelha
esquerda — mas tinha sempre a altura necessária para não afrontar
as outras feições, nem diminuir a graça delas. Realmente, era
interessante de rosto, a boca fina e chocarreira, o nariz curvo e delgado.
Tinha o sestro de sacudir o ombro direito, de quando em quando e veio
a perdê-lo, desde que um de nós lhe notou um dia no seminário;
primeiro exemplo que vi de que um homem pode corrigir-se muito
bem dos defeitos miúdos”.
José Dias: era magro chupado, com um principio de calviçe e
José Dias: era magro chupado, com um principio de calviçe e
dedicado a família de Bentinho até a morte. Era agregado em casa de
D. Gloria "apresenta-se como medico sem o ser.”
“[...] amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental
“[...] amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental
às idéias; não as havendo, servia a prolongar as frases. [...] vi-o passar
com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata
de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e
talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem
bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por
dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita,
veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro,
chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco
anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele
vagar arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar calculado e
deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da conseqüência,
a conseqüência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!"
Dona Glória: mãe de Bentinho, senhora religiosa e viúva que, em
Dona Glória: mãe de Bentinho, senhora religiosa e viúva que, em
razão de uma antiga promessa, desejava fazer do filho um padre.
“D. Maria da Glória Fernandes Santiago contava quarenta e dous
“D. Maria da Glória Fernandes Santiago contava quarenta e dous
anos de idade. Era ainda bonita e moça, mas teimava em esconder
os saldos da juventude, por mais que a natureza quisesse preservá-la
da ação do tempo. Vivia metida em um eterno vestido escuro, sem
adornos, com um xale preto, dobrado em triângulo e abrochado ao
peito por um camafeu. Os cabelos, em bandós, eram apanhados
sobre a nuca por um velho pente de tartaruga; alguma vez trazia a
touca branca de folhas. Lidava assim, com os seus sapatos de
cordovão rasos e surdos, a um lado e outro, vendo e guiando os
serviços todos da casa inteira, desde manhã até à noite.”
Tio Cosme: irmão de D. Glória, advogado e viúvo era modesto,
Tio Cosme: irmão de D. Glória, advogado e viúvo era modesto,
gordo, olhos dorminhocos e respiração curta. Ocupa posição neutra:
não se opunha aos planos de Bentinho, mas também não interrompia.
"Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos.
"Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos.
Uma das minhas recordações mais antigas era vê-lo montar todas as
manhãs a besta que minha mãe lhe deu e que o levava ao escritório.
O preto que a tinha ido buscar à cocheira segurava o freio, enquanto
ele erguia o pé e pousava no estribo - a isto seguia-se um minuto de
descanso ou reflexão. Depois, dava um impulso, o primeiro, o corpo
ameaçava subir, mas não subia; segundo impulso, igual efeito.
Enfim, após alguns instantes largos, tio Cosme enfeixava todas as
forças físicas e morais, dava o último surto da terra, e desta vez
caía em cima do selim. Raramente a besta deixava de mostrar por
um gesto que acabava de receber o mundo. Tio Cosme acomodava
as carnes, e a besta partia a trote."
Prima Justina: viúva prima de D. Glória. Parece ser egoísta,
Prima Justina: viúva prima de D. Glória. Parece ser egoísta,
ciumenta e intrigante.
“Era quadragenária, magra e pálida, boca fina e olhos curiosos.
“Era quadragenária, magra e pálida, boca fina e olhos curiosos.
Vivia conosco por favor de minha mãe, e também por interesse;
minha mãe queria ter uma senhora íntima ao pé de si, e antes
parenta que estranha.”
Pedro de Albuquerque Santiago: pai falecido de Bentinho.
“Não me lembra nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava
Pedro de Albuquerque Santiago: pai falecido de Bentinho.
“Não me lembra nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava
cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos redondos, que me
acompanham para todos os lados, efeito da pintura que me
assombrava em pequeno. O pescoço sai de uma gravata preta de
muitas voltas, a cara é toda rapada, salvo um trechozinho pegado
às orelhas. [...] O que se lê na cara de ambos [os pais de Bentinho]
é que, se a felicidade conjugal pode ser comparada à sorte grande,
eles a tiraram no bilhete comprado de sociedade.”
Padre Cabral: velho amigo do tio Cose com quem costumava jogar
Padre Cabral: velho amigo do tio Cose com quem costumava jogar
durante as noites, na casa de D. Glória, e quem ensinou a Bentinho
as primeiras letras, latim e doutrina. O padre ajuda Bentinho no caso
do seminário, explicando para a família pode-se ter a vocação religiosa
manifesta de outra forma que não a de se tornar padre:
“Prima Justina interveio: — Como? Então pode-se entrar para o
“Prima Justina interveio: — Como? Então pode-se entrar para o
seminário e não sair padre? — Padre Cabral respondeu que sim, que se
podia, e, voltando-se para mim [Bentinho], falou da minha vocação,
que era manifesta; os meus brinquedos foram sempre de igreja, e eu
adorava os ofícios divinos. A prova não provava; todas as crianças do
meu tempo eram devotas. Cabral acrescentou que o reitor de S. José,
a quem contara ultimamente a promessa de minha mãe, tinha o meu
nascimento por milagre; ele era da mesma opinião.”
Sancha: companheira de colégio de Capitu, filha de Gurgel,
Sancha: companheira de colégio de Capitu, filha de Gurgel,
comerciante de objetos americanos que “era viúvo e morria
pela filha”. Sancha casa-se com Escobar.
“Escobar e a mulher viviam felizes, tinham uma filhinha.
“Escobar e a mulher viviam felizes, tinham uma filhinha.
Em tempo ouvi falar de uma aventura do marido, negócio de
teatro, não sei que atriz ou bailarina, mas se foi certo, não deu
escândalo. Sancha era modesta, o marido trabalhador.”
O casal estreita amizade com Bentinho e Capitu:
“Demais, as nossas relações de família estavam previamente feitas;
O casal estreita amizade com Bentinho e Capitu:
“Demais, as nossas relações de família estavam previamente feitas;
Sancha e Capitu continuavam depois de casadas a amizade da escola,
Escobar e eu a do seminário. Eles moravam em Andaraí, aonde que
riam que fôssemos muitas vezes, e, não podendo ser tantas como
desejávamos, íamos lá jantar alguns domingos, ou eles vinham
fazê-lo conosco. Jantar é pouco, íamos sempre muito cedo, logo
depois do almoço, para gozarmos o dia compridamente, e só nos
separávamos às nove, dez e onze horas, quando não podia ser mais.”
Ezequiel: filho de Capitu e Bentinho, cujas feições e trejeitos
Ezequiel: filho de Capitu e Bentinho, cujas feições e trejeitos
semelhantes aos de Escobar levam o narrador a desconfiar de
que sua esposa o traíra, e a crer que não é seu filho, mas sim, de
seu melhor amigo.
“Nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o corpo, a
“Nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o corpo, a
pessoa inteira, iam-se apurando com o tempo. Eram como um
debuxo primitivo que o artista vai enchendo e colorindo aos poucos,
e a figura entra a ver, sorrir, palpitar, falar quase, até que a família
pêndula o quadro na parede, em memória do que foi e já não pode
ser. Aqui podia ser e era.”
Análise crítica
A obra:
- É um conto sem cunho educativo.
- Remete o leitor a algumas passagens de “Otelo”, a obra de
Análise crítica
A obra:
- É um conto sem cunho educativo.
- Remete o leitor a algumas passagens de “Otelo”, a obra de
Shakespeare, e também aos Deuses Gregos.
- envolve temas atuais: um triângulo amoroso; a resistência do jovem a
- envolve temas atuais: um triângulo amoroso; a resistência do jovem a
ser seminarista; a separação; a preocupação com as aparências etc.
- envolve temas atemporais: a dúvida da traição, e o sentimento de
- envolve temas atemporais: a dúvida da traição, e o sentimento de
impotência perante a dúvida, o amor contrapondo-se ao ódio; o
pensar na morte e no valor da vida; a solidão; a velhice, a necessidade
de reparação etc.
- aborda características psicológicas do ser humano já que Bentinho
- aborda características psicológicas do ser humano já que Bentinho
foi criado sem o pai, fato que, em parte, define o comportamento do
protagonista demonstrado na relação materna e matrimonial, bem como,
na amizade com Escobar. Segundo o psicanalista Sigmund Freud, a
relação afetiva com os pais é de grande importância para o
comportamento do adulto, podendo ocasionar patologias futuras, como
a neurose, muitas vezes reconhecida como o complexo de Édipo.
Os críticos: o crítico José Guilherme Merquior define o estilo narrativo
Os críticos: o crítico José Guilherme Merquior define o estilo narrativo
de Dom Casmurro como uma obra de capítulos curtos (mini-capítulos),
cujos títulos expressam o sarcasmo do autor, acomapanhando o estilo
apresentado nos dois romances precedentes.
José Guilherme diz que Machado de Assis não apresenta as personagens,
José Guilherme diz que Machado de Assis não apresenta as personagens,
mas sim, denúncias. Para Guilherme, a arte de Machado é sugestionada
ao máximo, carregada de humor expresso nas citações literárias, alusões
mitológicas, linguagem figurada e expressões sentenciosas.
Já Barreto Filho diz que Machado de Assis vai à busca do trágico e sua
Já Barreto Filho diz que Machado de Assis vai à busca do trágico e sua
visão em si se detém nas aparências das coisas. Sua arte tem a expressão
— sentimento + razão — que é o ideal de Machado.
Dom Casmurro é uma contribuição brasileiríssima ao motivo básico da arte
Dom Casmurro é uma contribuição brasileiríssima ao motivo básico da arte
impressionista: a expressão elegíaca do tempo.
Antônio Cândido ressalta que os críticos que estudaram Machado nunca
Antônio Cândido ressalta que os críticos que estudaram Machado nunca
deixaram de inventariar sobre as causas do seu tormento social e pessoal,
por isso, analisando o aspecto da vida intelectual, percebe-se que Machado
sempre foi apoiado e aos cinqüenta anos já era considerado o maior
escritor do país.
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