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domingo, 2 de fevereiro de 2014

RESUMO "A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D'ÁGUA"



Autor dos mais respeitados na literatura brasileira, desde os anos trinta, 
Jorge Amado tem pontificado e feito sucesso de crítica e de público. 
Sua obra explora os mais diferentes aspectos da vida baiana: a posse 
violenta da terra, com as conseqüências sociais terríveis, como ocorreu 
na colonização da zona cacaueira do Sul da Bahia, está magistralmente 
imortalizada em Cacau, São Jorge de Ilhéus, Gabriela, Cravo e Canela 
e Terras do Sem Fim.
Os tipos folclóricos das ladeiras de Salvador estão presentes em Tenda 
dos Milagres, Capitães da Areia, Mar Morto. A literatura engajada, 
comprometida com a ideologia política do Autor faz-se presente em 
Os Subterrâneos da Liberdade, O Cavaleiro da Esperança. Os perfis 
de mulheres extraordinárias que comovem e seduzem estão em Tieta 
do Agreste, Dona Flor e seus Dois Maridos, Gabriela e muitos outros...
Primeiro é preciso que se tenha em mente o "descompromisso" do 
Autor com o registro formal culto, para se entender melhor o 
comentário que se faz constantemente sobre seu "estilo". 
Jorge Amado já se autoproclamou "um baiano romântico e sensual". 
É o que a crítica costuma rotular de contador de estórias.
Não segue, intencionalmente, o rigor da técnica de construção literária 
e nem dá a mínima para as normas gramaticais e ortográficas. 
Incorpora, com a maior naturalidade, à língua escrita, termos e 
expressões típicas da língua oral e de sua Bahia idolatrada.
Não espere o leitor, portanto, defrontar-se com um texto primoroso, 
regular, pausterizado. Entretanto, quem se aventurar nos meandros de 
suas páginas, esteja preparado para o deguste de um texto saboroso e 
suculento que transpira a trópico, a calor, a vida. Suas histórias são 
tramadas sobre o povo simples e rude, numa língua que esse povo fala
 e entende.
O texto que serve de suporte a este estudo centra-se na fixação dos 
tipos marginalizados para, por intermédio deles, analisar e criticar toda 
a sociedade. A ação dá-se, basicamente, em Salvador e gira em torno da 
boêmia desqualificada das cercanias do cais do porto.
A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água é uma das melhores 
narrativas publicadas por Jorge Amado. Veio a lume em 1958 e conquistou 
desde logo a admiração de quantos dela se aproximaram. Nitidamente 
imbricada no Realismo Mágico, mistura sonho e realidade; loucura e 
racionalidade; amor e desamor; ternura e rancor, de forma envolvente e
 instigante.
Joaquim Soares da Cunha foi funcionário público, pai e marido exemplar
 até o dia em que se aposentou do serviço público. A partir daí, jogou tudo 
para o alto: família, respeitabilidade, conhecidos, amigos, tradição. 
Caiu na malandragem, no alcoolismo, na jogatina. Trocou a vida familiar 
pela convivência com as prostitutas, os bêbados, os marinheiros, os 
jogadores e pequenos meliantes e contraventores da ralé de Salvador.
Joaquim era o “rei dos vagabundos” da Bahia pois escreviam sobre ele nas 
colunas policiais das gazetas. Era também “cachaceiro-mor de Salvador”, 
“o filósofo esfarrapado da rampa do mercado”, “o senador das gafieiras”,
 “o vagabundo por excelência”.
Seu apelido é porque um dia ao entrar em uma venda, viu uma garrafa no 
balcão com uma límpida cachaça. Encheu um copo e virou-o de uma vez. 
Aí deu um Berro muito forte: Águuuuuua!
Sua sede era saciada com cachaça e seu descanso era no ombro acolhedor 
da prostituta. Fez-se respeitado e admirado entre seus novos companheiros 
de infortúnio: era o paizinho, sábio e conselheiro, sempre disposto a mais 
uma farra ou bebedeira. Sua opção pela bandalha representa o grito terrível 
do homem dominado e cerceado por preconceitos de toda sorte e que um dia
rompe as amarras e grita por liberdade.
Seus amigos mais íntimos: Curió, Negro Pastilha, Cabo Martim e Pé-de-vento.
Morreu solitariamente sobre uma enxerga imunda e sua morte detonou todo o 
processo de reconhecimento/desconhecimento por parte da família real e da 
família adotada. Sua suposta morte foi em um quarto da ladeira do Tabuão.
Os amigos durante o velório se embriagam e resolvem, bêbados, levar o defunto 
para um último "giro" pelo baixo-mundo que habitavam. O passeio passa pelos
 bordéis e botecos, terminando em um saveiro, onde há comida e mulheres. 
Vêm uma tempestade e o corpo de Quincas cai ao mar.

Ao renunciar à família, mudar de ambiente e de costumes, Quincas morreu 
pela primeira vez; na solidão de seu quartinho imundo, envolvido por farrapos 
e curtindo a última bebedeira, morreu pela segunda vez; ao cair ao mar, não 
deixando qualquer testemunho físico de sua passagem pela vida, morreu pela 
terceira vez

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