A obra Éramos seis foi publicada pela primeira vez em 1943.
É um romance de Maria José Dupré que também teve algumas adaptações
para o cinema e para a televisão. Na televisão, Lola foi representada
pela ótima atriz Irene Ravache no canal SBT.
O romance conta a história de uma família paulista constituída por Julio,
O romance conta a história de uma família paulista constituída por Julio,
Lola e seus quatro filhos, Julinho, Isabel, Carlos e Alfredo. A história
dessa família é corriqueira e cotidiana, todavia desperta grande interesse
no leitor por possibilitar descobrir mais das relações humanas e da
individualidade de cada membro dessa família. A análise do estereótipo
de cada indivíduo é muito interessante.
Julio é o patriarca da família, sujeito trabalhador e turrão – carrega todo
Julio é o patriarca da família, sujeito trabalhador e turrão – carrega todo
o machismo proveniente de sua época. A família brasileira da época era
composta pelo pai que era o provedor, a mãe que zelava o lar e responsável
pela educação dos filhos. Julio não era um cara muito afetuoso com a mulher
e os filhos, exceto Isabel que era sim sua filha preferida.
“Logo vi que você ia dar o basta; você e sua gente são fracas mesmo.
“Logo vi que você ia dar o basta; você e sua gente são fracas mesmo.
Eu queria que você visse quando mamãe era moça, da sua idade; cozinhava
para todos nós, limpava a casa que era uma beleza, mas ficava mesmo uma
beleza. O soalho brilhava que se podia ver, não é como este aqui que até dá
vergonha. Ainda costurava toda a roupa da casa, pergunte a Maria.
Isso sim é dona de casa.”
Lola é a nossa Amélia da música de Mario Lago e Ataulfo “Ai que saudade
Lola é a nossa Amélia da música de Mario Lago e Ataulfo “Ai que saudade
da Amélia”
“Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade”
Mãe zelosa e amorosa, esposa dedicada e submissa, capaz de aguentar as
“Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade”
Mãe zelosa e amorosa, esposa dedicada e submissa, capaz de aguentar as
bebedeiras do marido e suas grosserias pacificamente. O “pior” de tudo é
que Lola nos faz crer que é uma esposa feliz. Lola é a grandeza dessa família,
pois ela é capaz de tudo para que cada um deles viva da melhor forma possível.
Durante toda a narrativa, Lola questiona a sua qualidade como mãe, como se
esse fosse o papel que ela mais gosta de representar. Ela é sempre muito
dedicada e comprometida.
“Nunca disse aos meus filhos para serem honestos. Sabe por quê? Porque
“Nunca disse aos meus filhos para serem honestos. Sabe por quê? Porque
sempre pensei que a gente já nascesse honesta e isso não se ensinasse.
Imagine dizer a eles todos os dias: não roube, não mate. Você acha que isso
se ensina? É o mesmo que dizer: a boca é para falar, os olhos são para olhar.
Isso se ensina, Clotilde? Diga se isso se ensina. Ensina-se a ser bom, ser
correto, cumprir as obrigações, ser limpo, fazer o bem, não maltratar ninguém,
obedecer aos mais velhos, respeitar os superiores. Mas, não roubar, não matar,
eu nunca ensinei; será que errei e devia ter ensinado também isso?
Pensei que a gente da vossa raça já nascesse sabendo. Vai ver que errei”.
Apesar de Lola ser a responsável pela educação das crianças – sobremaneira,
Apesar de Lola ser a responsável pela educação das crianças – sobremaneira,
na fala de Julio, Lola é sempre responsabilizada pelas falhas dos filhos – Julio
era a maior autoridade na casa. Era ele que detinha a palavra final e também era
o grande temor dos filhos.
Carlos é o filho mais velho, muito estudioso e responsável. Ele é o orgulho
Carlos é o filho mais velho, muito estudioso e responsável. Ele é o orgulho
dos pais, sempre atento aos problemas familiares e disposto a ajudar da melhor
forma. É um doce deleite acompanhar a relação de Carlos com sua mãe.
Eles são a representação maior do amor entre mãe e filho. Carlos esteve
sempre ao lado de sua mãe… até o fim. Ele sempre foi preocupado com as
questões familiares, sempre comprometido e empenhado para que os irmãos
seguissem os ensinamentos dos pais. Carlos é a representação na história da
moral e dos bons costumes, ele sempre foi a voz que dizia “não faça isso
porque é errado”, “não faça aquilo porque é desonesto”; “não desonre a
família, não desrespeite nossos pais”.
Alfredo é um canalha, desde pequeno já mostrava a que veio. Desobediente,
Alfredo é um canalha, desde pequeno já mostrava a que veio. Desobediente,
desinteressado e muito egoísta. Um indivíduo completamente alheio aos
problemas vivenciados por sua família. Um bom vivant. Alfredo é aquele
indivíduo que faz toda a família questionar o que deu errado, pois consegue
ser completamente diferente de todo o resto da família. Em contrapartida ao
comportamento com a família, Alfredo era uma alma livre, desapegado,
disposto a viver a vida intensamente. Alfredo não perdia tempo, talvez fosse
a única pessoa que entendia que a vida é curta e que não temos tempo e que
uma vida feliz não é acumular riquezas. O problema de Alfredo é que para
viver o seu ideal, ele era capaz de fazer sua família sofrer, infringir normas,
magoar pessoas.
Julinho era negociador, amante dos livros, focado e determinado.
Julinho era negociador, amante dos livros, focado e determinado.
Era um burguês, enquanto esteve em casa não foi um mau filho, todavia ao
se afastar dos pais para ir ganhar a vida em outro estado, ficou inerte e
desinteressado da família. Depois que saiu do ninho, sempre foi correto,
trabalhador, mas esqueceu completamente dos seus familiares.
Isabel era a mocinha da casa, vaidosa, a queridinha do papai.
Isabel era a mocinha da casa, vaidosa, a queridinha do papai.
Quando pequena seu maior sonho era ser professora, depois que cresceu
seus sonhos ficaram maiores. Isabel é a personagem que nos traz um tema
polêmico para a época: Divórcio.
Isabel se apaixonou por um homem “casado”. Ele estava separado de fato
Isabel se apaixonou por um homem “casado”. Ele estava separado de fato
há dois anos, mas na época não havia o Divórcio tal qual o conhecemos
hoje, pois somente em 1977 com a Emenda nº9 que se criou a figura do
Divórcio. A Lei do Divórcio mesmo é de 26 de dezembro de 1977,
completando em 2017 40 anos. Antes disso, poderia ser pedido o desquite que
interrompia os deveres matrimoniais e terminava com a sociedade conjugal.
Para a família tradicional da época era inconcebível aceitar o divórcio e essa
questão foi responsável pelo afastamento de Isabel de sua família, pois os
laços foram rompidos após a união de Isabel com um homem separado.
Esse tema despertou algumas reflexões sobre preconceito e como as questões
Esse tema despertou algumas reflexões sobre preconceito e como as questões
culturais influenciam em nossa vida. Uma questão que separou uma família,
hoje seria absolutamente normal. Trazendo a polêmica para os tempos atuais,
é possível fazer uma analogia com as relações homoafetivas que hoje ainda
separam famílias por causa do preconceito e da falta de entendimento.
Daqui alguns anos será absolutamente normal, pois assim como ocorreu com
o divórcio, as leis já estão sendo adequadas para garantir os direitos dessas
pessoas. No futuro será outro tema que intranquilizará as famílias brasileiras.
Peçamos a Deus que ainda existam famílias nessa época.
“Alguém disse que a ausência mata o amor, qualquer espécie de amor; só a
“Alguém disse que a ausência mata o amor, qualquer espécie de amor; só a
convivência aquece e faz viver tanto o amor como a amizade.
A separação esfria”.
Não são poucas as provações que os Lemos precisaram enfrentar, houveram
Não são poucas as provações que os Lemos precisaram enfrentar, houveram
dificuldades financeiras, mortes, revoluções.
A leitura do livro nos faz perceber como as relações e a própria sociedade
A leitura do livro nos faz perceber como as relações e a própria sociedade
mudam muito no decorrer do tempo. Talvez o modelo da família Lemos não
sobrevivesse aos tempos atuais. Aliás, sobreviveria sim, pois parando um
pouco para pensar, é possível encontrar famílias idênticas aos Lemos.
Esse livro é a prova concreta de que boas histórias são sempre atemporais,
Esse livro é a prova concreta de que boas histórias são sempre atemporais,
pois mesmo um romance que fora escrito na década de 40 consegue ser tão
atual. A releitura desse livro também tem gosto de saudade da escola, saudade
de ler os nossos clássicos da literatura nacional que andam tão esquecidos.
Uma saudade de ir na estante da biblioteca da escola e pegar os livros do José
de Alencar, do Adolfo Caminha, do Joaquim Manuel de Macedo, do Monteiro
Lobato. Li uma versão da Editora Ática da série vagalume.
Salve a literatura nacional e os nossos grandes escritores.
Salve a literatura nacional e os nossos grandes escritores.
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