Crime e Castigo é um romance publicado em 1866. É o nono do escritor
e jornalista russo Fiódor Dostoiévski. O livro narra a história de um
crime cometido pelo ex-estudante Ródion Ramanovich Raskolnikov e
as suas consequências.
Crime e Castigo e o ensaio psicológico: a mente criminosa
Uma das características mais marcantes do romance é o aprofundamento
Uma das características mais marcantes do romance é o aprofundamento
psicológico dos personagens. O mundo interno tem tanta importância
quanto o externo. Essa dedicação à descrição e aos diálogos internos faz
com que o romance se aproxime de um ensaio sobre a psicologia humana.
É colocada uma questão moral: o assassinato de uma pessoa reles seria
É colocada uma questão moral: o assassinato de uma pessoa reles seria
moralmente errado se o objetivo fosse nobre? Raskolnikov acredita que
todas as pessoas superiores acabam cometendo assassinatos para atingir
seus objetivos, que no final são grande avanços para a humanidade.
O personagem principal do livro é Ródion Ramanovich Raskolnikov,
um ex-estudante que vive na miséria em um minúsculo apartamento em
Pitsburgo. Ele acredita que está destinado a grandes ações, mas que a
miséria o impede de atingir todo o seu potencial.
Convencido de que ele é um dessas pessoas, Raskolnikov acredita que
Convencido de que ele é um dessas pessoas, Raskolnikov acredita que
matar uma velha - que empresta a juros altíssimo e maltrata a sua irmã
mais nova - para conseguir os meios para atingir seu potencial não é um
ato moralmente condenável, mesmo que seja contra a lei.
Raskolnikov passa, então, a planejar o assassinato, sendo uma das suas
Raskolnikov passa, então, a planejar o assassinato, sendo uma das suas
maiores preocupações o efeito psicológico que este ato pode causar nele.
O ex-estudante acredita que durante e depois do assassinato ele por ser
acometido por uma espécie de remorso, como se fosse uma doença.
Dostoiévski explora o lado psicológico de uma forma excepcional.
Dostoiévski explora o lado psicológico de uma forma excepcional.
Após assassinar a mulher, Raskolnikov entra em um estado febril e de
delírios. A narrativa acompanha esse estado, e o leitor é envolvido em
inúmeras questões e detalhes que passam pela cabeça do assassino.
Crime e Castigo e o ensaio filosófico: há crime sem castigo?
Uma das principais questões do romance é essa. Mesmo que o criminoso
Crime e Castigo e o ensaio filosófico: há crime sem castigo?
Uma das principais questões do romance é essa. Mesmo que o criminoso
acredite que o delito que ele cometeu é moralmente correto e mesmo que
ele seja hábil suficiente para esconder todas as provas e não ser descoberto
pelo crime que cometeu, ele ainda assim será castigado?
O romance então adquire um lado filosófico, de ensaio sobre a moral e
O romance então adquire um lado filosófico, de ensaio sobre a moral e
sobre a relação do indivíduo com a sociedade que o cerca. A sociedade
em questão no romance é uma Rússia extremamente moral e católica,
czarista e aristocrática.
Mesmo que Raskolnikov não se sinta culpado pelo crime que cometeu, a
Mesmo que Raskolnikov não se sinta culpado pelo crime que cometeu, a
sociedade exerce uma pressão moral sobre ele. A presença de sua irmã e
de sua mãe em Pitsburgo logo na sequência do assassinato é um motivo
de extrema perturbação para o ex-estudante.
As mulheres da sua família são muito religiosas e queridas ao personagem.
As mulheres da sua família são muito religiosas e queridas ao personagem.
A possibilidade delas tomarem conhecimento do seu ato vil é motivo de
constante preocupação por parte de Raskolnikov. Dostoiévski nos mostra
que por mais que a moral seja algo do indivíduo, ela está ligada à sociedade,
aos círculos mais íntimos de convívio. A possibilidade de decepcionar
alguém querido é algo que também está em jogo nas escolhas das ações.
Em última instância, nos parece que Raskolnikov busca o castigo desde
Em última instância, nos parece que Raskolnikov busca o castigo desde
o primeiro segundo após o crime. Ele não se aproveita dos bens roubados
e cai em um estado de delírio. Ao ser confrontado com o juiz do caso, a
sua irritabilidade e suas provocações quase o denunciam.
O que faz o leitor questionar se o verdadeiro desejo de Raskolnikov nesses
encontros era ser descoberto e sofrer o castigo.Outro aspecto essencial é
que Raskolnikov insiste ao longo de todo o romance que não se sente
culpado pelo assassinato e que busca fugir do castigo, mesmo quando
já se encontra na prisão. Porém, as suas ações e a sua perturbação - que
só é acalmada depois da confissão - nos mostram o contrário.
Crime e Castigo e o ensaio social: os outros
Além dos conflitos internos, Raskolnikov se depara com muitos
Crime e Castigo e o ensaio social: os outros
Além dos conflitos internos, Raskolnikov se depara com muitos
personagens secundários que aprofundam os questionamentos feitos pelo
personagem e pelo escritor. A sua família, junto ao seu amigo de estudos
Razumíkhin e a Sônia Marmeladova formam uma espécie de núcleo de
apoio à Raskolnikov.
Porém, como tudo na narrativa é complexo, esse núcleo assume diversas
Porém, como tudo na narrativa é complexo, esse núcleo assume diversas
facetas e também é responsável por atormentar psicologicamente o
personagem principal em suas questões morais.
Outra espécie de núcleo é formado pelo Porfiry Petrovich e Zamyotov,
Outra espécie de núcleo é formado pelo Porfiry Petrovich e Zamyotov,
sendo os dois responsáveis pela investigação do assassinato. Porfiry
confronta Raskolnikov diversas vezes, nunca revelando se ele é ou não
suspeito do crime. A tensão que envolve os diálogos das duas personagens
é notável. A tensão dura até Porfiry acusar informalmente Raskolnikov
de ser o assassino.
Outras duas personagens marcantes são os pretendentes ricos da irmã de
Outras duas personagens marcantes são os pretendentes ricos da irmã de
Raskolnikov: Pyotr Petrovich Luzhin e Arkady Ivanovich Svidrigaïlov.
Cada um, a sua maneira, tenta subjugar a irmã de Raskolnikov.
Estes personagens entram em conflito com o ex-estudante que, de certo
modo, tenta proteger a sua irmã.
Mesmo que todos os personagens se relacionem com Raskolnikov de uma
Mesmo que todos os personagens se relacionem com Raskolnikov de uma
forma ou de outra, eles são muito independentes na narrativa.
Essa autonomia gera um aprofundamento das características dos
personagens. Eles não existem pura e simplesmente para cumprir um
papel narrativo, mas dão profundidade às relações humanas e ao romance.
É como se cada personagem existisse independentemente da narrativa.
É como se cada personagem existisse independentemente da narrativa.
A extenuante descrição física e moral que Dostoiévski faz dos
personagens ajuda a criar todo um universo em volta deles.
A maioria dos diálogos são surpreendentes, os personagens agem
de forma autônoma e não necessariamente de acordo com a
expectativa do leitor.
Crime e Castigo uma grande ficção
Tudo isto torna o romance de Dostoiévski uma das grandes obras
Tudo isto torna o romance de Dostoiévski uma das grandes obras
primas da ficção. O conteúdo filosófico do livro agrega a narrativa
que por si só já é surpreendente. O romance extrapola a sua função de
puro entretenimento e se torna num meio de transmissão de grandes
questionamentos filosóficos.
Se a narrativa fosse fraca, com falhas no enredo e personagens poucos
Se a narrativa fosse fraca, com falhas no enredo e personagens poucos
complexos, as questões colocadas no livro pareceriam descoladas da
história. Causariam confusão no leitor, tornando a leitura truncada e
difícil. Mas cada questão colocada se encaixa perfeitamente na
história do romance, tornando a leitura prazerosa e instrutiva.
Dostoiévski só fez isso graças a uma grande habilidade narrativa.
É por meio dela que as personagens interagem de forma tão viva e
independente e por onde a história passa fluida e capta a atenção do
leitor. Só assim, com uma boa estrutura, que foi possível transformar
Crime e Castigo em um romance-ensaio.
Fiódor Dostoiévski: o realismo e o existencialismo
A narrativa de Fiódor Dostoiévski é cheia de detalhes nas descrições
Fiódor Dostoiévski: o realismo e o existencialismo
A narrativa de Fiódor Dostoiévski é cheia de detalhes nas descrições
dos cenários, situações e personagens. Essa descrição dá um tom
realista aos romances do autor. É quase como se estivéssemos vendo
tudo aquilo que é narrado.
Dostoiévski usa em seus romances diversas vivências próprias que
Dostoiévski usa em seus romances diversas vivências próprias que
ajudam a dar esse realismo em sua narrativa. O que torna a obra do
escritor um pouco autobiográfica. Dostoiévski foi preso na Rússia em
1849, acusado de conspirar contra o Czar.
Ele foi mandado para o exílio na Sibéria e depois para o Cazaquistão,
Ele foi mandado para o exílio na Sibéria e depois para o Cazaquistão,
onde passou nove anos. Durante este período ele conviveu com
assassinos e outros criminosos. A sua experiência nos campos de
trabalho forçado e o contato com os outros presos serviu de base para o
romance Crime e Castigo.
Os diálogos internos e as introspecções dos personagens na obra de
Os diálogos internos e as introspecções dos personagens na obra de
Dostoiévski dão um caráter existencialista à obra. Essa forma de romance,
em que a vivência interna tem plena ação na narrativa, vai ser adotada por
quase todos os grandes escritores do começo do século 20.
Dostoiévski foi o pioneiro neste tipo de narrativa e a obra Crime e
Dostoiévski foi o pioneiro neste tipo de narrativa e a obra Crime e
Castigo é um grande exemplo do uso da introspecção dos personagens
para a construção do enredo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário