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domingo, 2 de fevereiro de 2014

RESUMO DO LIVRO "CIRANDA DE PEDRA "




Ciranda de Pedra, primeiro romance de Lygia Fagundes Telles, datado 
de 1954, reproduz o comportamento humano e seus relacionamentos. 
Isso é feito a partir de Virgínia, a protagonista, que vive uma complexa 
situação familiar e tenta ultrapassar as limitações sociais de um mundo 
masculino e busca uma identidade que defina um ser completo. 
Mais que apenas uma afirmação da condição feminina, da procura por 
independência e autosuficiência, o que a autora produz é uma reflexão 
sobre a própria condição humana, sobre a impossibilidade de se
participar na ciranda de pedra.

Em Ciranda de Pedra vivencia-se a desestruturação de uma família 
burguesa e a dissolução dos costumes. Laura, mãe de Virgínia, a 
protagonista, comete adultério contra um marido que lhe dava pouca ou 
nenhuma atenção, abandona um casamento infeliz, mas, ao ter a coragem
 de romper com a ordem estabelecida, acaba tendo de sofrer as 
conseqüências. Fica sem duas de suas filhas e ainda tem de arcar com o 
castigo divino, a loucura. “Nossa mãe está pagando por um erro terrível, 
será que você não percebe? Abandonou o marido, as filhas, abandonou tudo 
e foi viver com outro homem. Esqueceu-se dos seus deveres, enxovalhou a 
honra da família, caiu em pecado mortal!”

Enredo

Virgínia é filha de um casal separado: Laura e Natércio. Sua infância é 
marcada pela tristeza e solidão. Quando da separação, Laura foi viver em 
casa de Daniel, seu antigo médico, levando consigo Virgínia. Em casa de 
Daniel, Laura conta com Luciana, empregada antiga e dedicada, para os 
cuidados tanto do dia-a-dia doméstico, quanto para com Virgínia, que 
é ainda muito jovem. Luciana exerce grande influência no espírito da menina.
Laura, já muito doente, tem seu estado de saúde agravado, apesar de todos 
os cuidados e desvelo que Daniel concede a ela, inclusive recorrendo a todos 
os seus recursos financeiros para as despesas de saúde que exigem o estado de 
sua querida paciente. Sendo assim, a infância de Virgínia é marcada por 
grandes dificuldades: de um lado, as financeiras que não permitem à menina 
realizar pequenos desejos e sonhos (trocar a mobília, por exemplo), posto 
que todos os recursos de Daniel sejam voltados principalmente para os
 cuidados com sua mãe; de outro lado, a solidão em que vive e o profundo 
sentimento de rejeição, pois ela não se sente aceita sequer na casa de 
Natércio por ocasião das visitas semanais que lhe faz.

Estes sentimentos e conflitos nos são apresentados quando vamos conhecendo 
detalhes como o fato de Virgínia possuir duas irmãs, Bruna e Otávia que
 vivem em companhia do pai, Natércio, advogado conceituado que desfruta 
de bons recursos econômicos, conseqüentemente vivendo estas últimas em 
condições (econômicas) mais confortáveis que Virgínia (que, entre outras 
coisas, usa roupas reformadas da mãe, ou das irmãs, bem como os móveis 
de seu quarto, que são "sobras" do quarto reformado de Otávia). 
Seu sofrimento e amargura se afloram tanto mais quando em uma de 
suas visitas à casa de Natércio, muito grande e bonita, com vasto jardim 
onde existe uma ciranda de anões de pedra com uma fonte, local que ela 
costuma com freqüência visitar. Mas, apesar da ciranda de anões que ela 
ama, Virgínia sente-se muito desconfortável na presença das irmãs que a 
hostilizam e nas quais ela só vê qualidades, enquanto que ela, Virgínia, ao 
seu modo de ver, só tem defeitos. Sente-se desconfortável também por não 
conseguir de Natércio, gestos de carinho e afeto de que ela tanto necessita 
e que ele não oferece, posto que é um homem muito convencional e severo.
 Angústia e solidão. São estes os sentimentos que Virgínia conhece quer na 
casa de Natércio quer na casa de Daniel. Nesta última, a menina não pode
 sequer aproximar-se da mãe, pois esta tem raros momentos de lucidez e
 encontra-se em estado físico e mental bastante precários.

Distante também é seu relacionamento com Daniel, com quem até hesita em 
alguns momentos, entre o desejo de ter alguma atitude mais afetuosa, porém 
recuando sempre, na dúvida de como seria recebido seu gesto. O sonho de 
Virgínia, nessa época, se resume entre o desejo de ir morar com o pai e as 
irmãs, e, o que seria a realização máxima, a recuperação de sua mãe com o 
conseqüente retorno das duas para aquela casa e a família novamente reunida. 
Porém, o estado de saúde de Laura se agrava, fazendo com que Virgínia realize 
parte de seu sonho: ela volta a morar naquela casa, passando a conviver com as
 irmãs, Bruna e Otávia, com Frau Herta (a governanta), e os amigos Conrado
(por que é apaixonada), Letícia (irmã de Conrado) e Afonso. No momento em 
que Virgínia volta a morar naquela casa, ela se dá conta de que aquele ambiente 
familiar com o qual ela sonhava, era uma ilusão. Sentindo-se rejeitada pelas
 irmãs que criticam a mãe por ter-se separado do pai, e sem receber de Natércio 
o afeto, apoio e carinho que esperava, a menina percebe que não há lugar para 
ela nesse fechado círculo. Compara a ciranda de anões de pedra do jardim, que 
era sua paixão, com o grupo tão fechado formado por Bruna, Otávia, Afonso,
 Letícia e Conrado.

É nesse conflito de sensações que, duas semanas após a sua chegada àquela casa, 
Virgínia recebe a notícia da morte da mãe, seguida do suicídio de Daniel. 
É também nessa circunstância que Luciana (que era apaixonada por Daniel), 
num momento de profunda dor, revela à menina, durante uma visita, que Daniel 
era seu verdadeiro pai. Sente-se, então, mais sozinha do que nunca e, dando-se 
conta que jamais seria aceita no grupo, da maneira que desejava, pede a Natércio 
que a interne no colégio, pedido este que é por ele aceito.

A segunda parte do romance tem início com uma Virgínia já adulta deixando o 
colégio e voltando para a casa de Natércio. Acreditando que já havia superado 
todas as suas angústias chega àquela casa, mas não demora a perceber que o grupo 
continua fechado: uma ciranda de pedra mais rígida que nunca. Bruna, ainda mais 
moralista, havia se casado com Afonso. Otávia, alienada, dedicava-se à pintura e 
a alguns amantes ocasionais. Natércio, envelhecido, já não trabalhava mais. 
Frau Herta estava doente, só e abandonada em um cômodo sujo e pobre de um 
bairro afastado. Letícia, agora, dedicava-se ao esporte: uma tenista premiada e 
que se interessava apenas por mulheres. Por fim, Conrado, seu grande amor de 
infância, amor que ardia ainda em seu coração, vivia isolado, recuado, com 
sérios problemas sexuais. O retorno de Virgínia ao convívio com o círculo 
familiar reabriram-lhe as antigas feridas. Mas é neste momento também que ela
 percebe a real face de cada componente da ciranda, suas fraquezas, suas amarguras. 
Cada máscara se rompe. Ela se dá conta do que, na verdade, se escondia por trás 
daquela hostilidade e rejeição: ela era desejada por todos ao mesmo tempo e, por
 isso, temida. Aos poucos, então, vai-se apresentando uma Virgínia mais 
Amadurecida e forte, independente e segura. Ela abandona, por fim, as tentativas 
de sua entrada nesse círculo fechado, decidindo-se por uma longa viagem, sem 
perspectiva de volta. Não mais a ciranda de pedra, não mais o desejado jardim, 
não mais os sonhos. Nem mesmo Conrado. Tudo havia ficado no passado. 
Mas, como uma rocha, em suas lembranças estaria gravado. “... 
um dia, um besouro caiu de costas. E besouro que cai de costas não se 
levanta nunca mais".

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