Alves & Cia. é a firma da qual são sócios Machado e Alves e o título
deste "pequeno romance" fala sobre o adultério e suas conseqüências.
Quando no dia do aniversário de Ludovina, esposa de Godofredo
(Alves), este a surpreende abraçada com Machado, aí começa a história.
Alves perturbado com a surpresa, se retira e Machado foge da sala.
Alves expulsa Lulu para a casa do pai (que recebe a notícia feliz com
a pensão que receberá junto) e decide que ele e Machado tirarão na
sorte quem se suicidaria. Posto que Machado e as testemunhas achem
isto ridículo, vai-se decidindo por um duelo de pistolas, logo por outro
duelo de espadas (porque "não foi tão sério"), e por fim por duelo
nenhum. Ludovina viaja com o pai e volta mais tarde. Machado volta
a trabalhar num clima seco e frio onde antes houveram dois grandes
amigos.
Já nessa época Alves quer a reconciliação. O tempo vai passando,
Já nessa época Alves quer a reconciliação. O tempo vai passando,
Alves se reconcilia com Ludovina. Sua amizade com Machado renasce;
a firma prospera, Machado casa, enviuva, casa novamente, etc. Ao final
de 30 anos, os três são felizes e ainda muito unidos, mas nunca esquecem
o episódio lamentável em que se envolveram.
O romance tem como cenário a Lisboa nos fins do século XIX e seu
O romance tem como cenário a Lisboa nos fins do século XIX e seu
imaginário social. O texto propõe o que já foi chamado de sociologia do
adultério um dos temas recorrentes em Eça de Queiroz. Traz a visão de
que o ócio degenerava a virtude da sociedade como um todo e, sendo
assim, a mulher que tem muitas ocupações é mais fiel. Godofredo Alves,
o protagonista, que vem de uma classe mais pobre e cresce com o comércio,
vive um dilema: seus amigos, de dinheiro “fácil”, tem idéias de fidelidade
diferentes da sua. E o que é, na verdade, essa idéia posta de fidelidade?
O episódio que gera a questão vem logo no início da narrativa, quando
Alves chega em sua casa e encontra sua esposa nos braços do sócio.
Este mais jovem e com mais dinheiro. Godofredo se desespera, expulsa
a mulher de sua casa e trama se vingar matando o sócio. Como fazer?
Busca o auxílio de amigos próximos e entre discussões e desilusões
repensa seus valores morais. O texto retrata o cotidiano do século XIX
em Portugal e a mudança de costumes solidificados, representados por
Godofredo Alves, como a própria fidelidade matrimonial, o duelo para
justificar a honra, a mesada para a esposa traidora, as “aparências” que
deveriam ser mantidas, frente a visão dos demais personagens: o sogro
que preocupasse com a mesada da filha, seus amigos que lhe dão uma
aula de experiências amorosas, os empregados que fazem vistas grossas
aos acontecimentos. Depois de persuadido, Godofredo resolve retornar
à mulher e aceita o sócio novamente. E fica o dito pelo não dito e viveram
felizes, etc. A questão central de “Alves e Cia.” é a adequação do homem
ao meio, a pressão da sociedade que o obriga a tomar posições frente aos
acontecimentos em seu dia a dia; a degeneração da moral cristã que só
existe como um véu encobrindo a realidade e o tempo – a velocidade
das transformações sociais que atropela um conjunto de valores solidificados
– que apaga todas as feridas. Tudo estava bem na vida do Alves.
Até que um dia ele chegou em casa e teve a terrível visão em sua sala de
estar: sua mulher, no sofá amarelo, em postura inconveniente, trocando
afagos com um outro homem. Negócios, tranqüilidade, o doce lar, tudo
veio abaixo de uma só vez, como num pesadelo terrível. Desesperado,
Alves vê sua vida ruir e, indignado, anseia por vingança. Afinal, perde-se
a mulher, mas não se perde a honra. O que é realmente importante para a
vida social de um homem nesse conjunto que é o século XIX e, em
determinadas classes sociais, para o homem de hoje? Tais questões
permeiam todo o texto. Podemos perceber que o naturalismo –
característico dos textos anteriores de Eça de Queiroz – já começa a dar
espaço a um sarcasmo diluído na narrativa (que não invalida o naturalismo)
que funciona como uma “saturação”, aparecendo em cada detalhe descrito
do cotidiano português. A critica é tomada à sociedade burguesa. É o caso
da construção de uma espécie de “anticiúmes’. Godofredo Alves é o
estereótipo da prudência mercantil e da burguesia constituída em sólidas
bases. Sua reconciliação com a mulher e com o sócio determina a
prevalência dos negócios: a firma, as aparências, a conveniência social,
etc. sobre as relações amorosas: “As paixões fortes pertencem aos livros”.
As pressões de seus amigos e dos demais membros de sua convivência/
conveniência social o persuadem a esquecer o "acidental" adultério,
reduzindo-o a um acidente pouco significativo. O que sobrevive é,
realmente, a necessidade de sobrevivência em uma sociedade capitalista.
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